Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Dez anos escrevendo sobre o Galo. Coração é ainda mais preto e branco

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Agora em junho se completam dez anos desde que escrevi minha primeira coluna. Nesse meio tempo, saímos do quase rebaixamento para a conquista da Libertadores, o título impossível pelo qual esperei uma vida. Ganhamos a Copa do Brasil sobre o arquifreguês, sobre o Flamengo e o Corinthians, celebramos Ronaldinho Gaúcho e a Recopa, vencemos seis campeonatos mineiros. Fiz um livro do Galo, roteirizei e produzi um filme sobre a sua história. Vi o Crüzëirö morrer.


Dez anos escrevendo sobre o Atlético, e me sinto como o Roberto Carlos, que passou a vida cantando coisas do coração. Fiz três tatuagens do Galo, ajudei a fundar um consulado do Atlético na Bahia, ganhei a medalha oficial da Libertadores, fiquei amigo do Victor e do Reinaldo. Fui ao Marrocos e ao Paraguai. Saí do Mineirão nos braços do povo quando ganhamos a Liberta. Fui execrado pelas tantas vezes que misturei o Galo com a política, e outras tantas por duvidar de Deus. Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.

Sou fundador e presidente da IURG, a Igreja Universal do Reino do Galo. Ateu, devoto apenas de São Victor, redigi suas encíclicas. Decifrei os teoremas da atleticanidade, fui tema de mestrado e doutorado. Mas a verdade verdadeira é que um sujeito que passa dez anos escrevendo sobre um único time de futebol não é mais do que um ordenhador de pedras – e dos bons.

Fiz amigos e inimigos, peleio na Justiça com Zezé Perrella, sofri duas emboscadas de torcidas organizadas do arquifreguês, uma dúzia de ameaças de morte com boletins registrados em delegacias. Ao contrário do Crüzëirö, sobrevivi. E acabei perdoado pelos crüzëirënsës antifascistas. Não falo mais Maria em respeito às mulheres. A gente evolui. Valeu a pena, Galo, vamos ser campeões!

Nessa década inteira de conversa fiada, vi a implosão do velho Mineirão e a elitização dos estádios, sofri de nostalgia pelo Bar 27 e as bandeiras que saíam do túnel e davam a volta no anel superior. Lamentei o tropeiro de McDonalds e o chope proibido. Desejei o copo de xixi voando sobre nossas cabeças e a democracia, sempre golpeada, da arquibancada de concreto. O Indepa, depois de seu dia de noiva, foi a minha casa.


Mudou tudo e não mudou nada. Seguimos, no plural, todos juntos, afinal “nós somos” do Clube Atlético Mineiro, “jogamos” com muita raça e amor, e não dizemos “vai, Corinthians”, mas “vamo, Galo”, pelo amor de Deus. Por mais que a torcida (e o futebol) tenha se transformado nessa última década, a atleticanidade remonta a tempos ancestrais, está no DNA, como um cromossomo preto e branco. É a atleticanidade, “inexplicável, só sabe quem é”, o rejunte da Massa.

Esta foi uma semana simbólica dessa nossa força ancestral. Das coisas mais bonitas de ver a solidariedade em torno do Felipe, torcedor, em sua luta contra o câncer. É a luta, também, da minha companheira, a Fabi. Eu, a Fabi, o Felipe, o pai do Felipe e até o Ronaldinho Gaúcho e a dona Miguelina sabemos a força e a beleza que há quando a torcida do Galo decide que “é nóis”, “tamo junto”, “eu acredito” e “vou com eles até o final”. Vivi e vivo isso intensamente desde o diagnóstico dela, em 2019. Nunca vou ter as palavras certas para explicar e agradecer. Felipe, a minha família abraça você e sua família: lutar, lutar, lutar, vencer, vencer, vencer.

Remando contra a maré, sempre, tiramos o Remo. Hulk é incrível, Nacho também. Que venham Boca e Flamengo, São Paulo e Palmeiras. Valeu a pena, Galo, seremos campeões! E veremos, com a Fabi e o Felipe, o bi de todas as coisas. Obrigado, meu Galo querido.