DA ARQUIBANCADA

Só resta à torcida tapar o nariz e carregar o Galo nas costas

"É uma situação um tanto bizarra e preocupante. À exceção de uns poucos, é um time sem jogador, sem técnico, sem presidente, sem brio e sem salário"

Fred Melo Paiva
O novo técnico do Atlético, Vagner Mancini - Foto: Bruno Cantini/Atlético


Que bom seria se não houvesse pudor algum e esta gazeta pudesse acolher, sem qualquer escusa ao leitor, os piores impropérios. Então este pobre colunista, vestido com sua capa de calunista, sairia a empilhar parágrafos extraídos diretamente de seu fígado, curado na cachaça e no dissabor de ver o Galo na draga infinita. Coitadas de certas mães, já vovós, fosse isso possível. Quanta injustiça se cometeria contra aqueles que nasceram filhos da Bri- lhante. Quanta coisa não entraria nos anais, não exatamente da história.

Time desgraçado! Fábio Santos cabeça de piroca! Pulhas! Vão todos para o diabo que os carregue, menos o Luan, o Leonardo Silva e o Réver. Cabeças de tomate, cabeças de melão, cabeças de bagre, pernas de pau! E o presidente, o Sette Peles? O Cramulhão, o Rabo de Seta. Continua fugitivo? Bota a cara, alemão!

Ciente da polarização nessa cloaca do mundo, trago meu litro de gasolina pra ajudar no fogo do cabaré. Certa vez, comparei Alexandre Kalil ao ex-presidente Lula.
Foi ele o responsável por tirar 8 milhões de atleticanos da linha da pobreza de títulos. Reergueu o Atlético, botou o Galo em posição de destaque no mundo. Daí veio o Nepomuceno, a Dilma indicada pelo nosso Lula. Não saudou a mandioca, mas discursava tão erraticamente quanto a ex-presidenta. Ambos gastaram os tubos e enterraram a economia.

Quando chegou o Sette Peles e seu plano de austeridade, imaginei tratar-se de um Michel Temer. Afinal, o curso natural da história. Podia vê-lo, inclusive, a pronunciar mesóclises e redigir poemas medíocres. Ambos juristas e cheios da grana, Michelzinho milionário, Settinho na Fórmula 1. Cercaram-se ambos das piores pessoas, embora não se possa comparar a incompetência de um Gallo com a picaretagem de um Jucá. A aproximação, no entanto, está equivocada. Não se trata do Temer. Sette Peles pulou essa parte. De vampiro foi logo a demônio: é, sem dúvida, o nosso Bozo, ainda que melhorado porque mudo e desaparecido.

Ambos com formação militar, autossuficientes e autoritários.
Ambos mais afeitos a destruir do que a construir, motivo pelo qual, talvez, o estádio não consiga sair do papel. Um se acercou de antiministros: o ministro do Meio Ambiente que despreza o meio ambiente, o chanceler em luta contra o “globalismo”, a ministra das Mulheres, para quem mulheres vestem rosa, e meninos azul. O outro, na luta contra o rebaixamento, acaba de contratar um recordista em rebaixamento – Vagner Mancini caiu com o Guarani em 2010, com o Ceará em 2011, com o Sport em 2012, com o Botafogo em 2014 e com o Vitória em 2018. A única vez em que salvou um time da Série B foi o Cruzeiro, quando ganhou do Atlético de 6 a 1, em 2011. Tá certinha essa escolha.

O atual time do Atlético é o mais covarde de sua história. O técnico é esse aí. O diretor de futebol pagou milhões de reais pra trazer um terceiro reserva. Presidente e diretoria competem com tipos como Ziza Valadares e Paulo Cury pelo título de piores em 111 anos – e já podem levantar o caneco, visto que não há comparação entre esta e aquela época, quando nem sequer havia campo para treinar.

É uma situação um tanto bizarra e preocupante. À exceção de uns poucos, é um time sem jogador, sem técnico, sem presidente, sem brio e sem salário. Diante disso, resta à torcida tapar o nariz e carregar o Galo nas costas, como em tantas passagens da nossa história.
Amanhã, diante do Santos, o atleticano precisa fazer como aquela charge famosa em que a Massa empurra um galináceo gigante. Não há saída. É isso ou o rebaixamento, quiçá no lugar do Cruzeiro. Toc-toc-toc.


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