Da arquibancada

Atlético parece um time de pelada

Galo joga sem esquema tático, não há jogadas ensaiadas, as linhas não conversam, o ataque segue inoperante, a defesa é frouxa e não há peças de reposição

Fred Melo Paiva
O técnico do Atlético, Rodrigo Santana - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press
 
A partir de amanhã, o atleticano adentra o trem fantasma. Numa tacada só, enfrenta Palmeiras, Flamengo e Grêmio. Nem vamos nos ater ao fato de fazer um jogo em casa e dois fora – para o Atlético, todo jogo é fora de casa, ainda que no Independência. Deus que nos ajude e guarde, porque nem com seu interposto, São Victor, podemos contar. Estamos num mato sem cachorro. Menos mau. Nada parte mais o coração de um cachorreiro do que o cachorro atropelado.

Quando foi mesmo que caímos nesse poço? A coisa foi num crescendo – ou, para dizer melhor, num diminuindo. Mas se tivesse de cravar uma data, um acontecimento, o turning point, diria que foi a hora em que escolhemos mandar o Pratto embora e ficar com Fred.
A partir daí tivemos o que merecemos. Da prateleira de cima, onde Kalil nos recolocou, migramos para a prateleira do meio. Agora alcançamos, por fim, o rés do chão, pelo menos no que se refere ao jogo em si. Ninguém, nem a Chapecoense, o Avaí, o CSA ou o Cruzeiro, todos na zona de rebaixamento, joga um futebol pior que o do Galo.

O futebol praticado pelo Atlético é da ordem da mais absoluta pelada. Aqui no cone sul da República do Nordeste, onde este ordenhador de pedras encontra-se exilado, a pelada se chama “baba”, mais simples e menos pornográfico. Times como Palmeiras, Grêmio, Flamengo, Athletico, Santos e Bahia jogam futebol. Alguns outros tentam. O Galo não. O Galo pratica outro esporte, o baba.

Não há no time do Atlético qualquer resquício de um esquema tático minimamente trabalhado. Não há alternativas, não há jogadas ensaiadas, as linhas não conversam, o ataque segue inoperante, a defesa é frouxa, não há um armador, não há um volante capaz de suprir a falta de Jair (e veja, Jair não é nenhum Beckenbauer).

Nem como praticantes da pelada, à qual devemos todo o respeito, conseguimos alcançar a excelência. Por uma razão simples: assim como a pelada dispensa a técnica, ela também rechaça o técnico. O baba em estado de arte é um jogo democrático em que todos juntos decidem quem entra e quem sai. Se algum componente encontra-se, vamos dizer, de ressaca, é instado a guardar posição na defesa.
O perna de pau “cata” no gol, o mais habilidoso veste a nove, os melhores são os titulares, ainda que tenham preferência pelas mesmas posições, os piores fazem a primeira de fora. Embora todos reclamem, trata-se apenas de uma acomodação de expectativas com a qual, ao fim e ao cabo, ninguém discorda. O Atlético comete o pecado de praticar a pelada tendo um técnico, mesmo que haja controvérsia sobre Rodrigo Santana ser um. Não há a menor chance de isso dar certo.

Quero crer que esse estado de coisas se deve à construção do estádio. É necessário cortar gastos e conter a dívida, de forma a conseguir viabilizar a obra. Como nascemos com o fiofó virado pro sol, é claro que o terreno abrigava animais extintos, fontes sulfurosas, esqueletos de dinossauros. É difícil obter as licenças e alvarás. Quem poderia supor que o paraíso perdido encontrava-se nas mediações de Contagem? Se o Cruzeiro escavar a sede no Barro Preto para fazer uma piscina, vai achar petróleo. A gente, o resto do corpo de Luzia.
 
 
 
 
Tudo bem que a draga em que nos encontramos tenha a ver com o estádio. Todos os clubes brasileiros sofreram para erguer suas arenas – à exceção do Corinthians, que achou que fosse ganhar a sua de mão beijada e agora está em apuros.
De qualquer forma, é triste ver a normalização do nosso fracasso. Ninguém se revolta, o técnico não cai, o presidente não cobra, os jogadores não se constrangem. Nem na época das vacas mais magras eu vi o Galo desse jeito. Triste.
.