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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Das trevas baianas já posso enxergar a luz

Bem podíamos repetir a dose na Arena da Baixada. Ganhar do Sergio Moro, do Véio da Havan. Passar Flamengo e Palmeiras, colar no Santos que a gente já conhece bem


postado em 17/08/2019 04:00 / atualizado em 16/08/2019 22:18

Ricardo Oliveira desencantou contra o Fluminense e vai descansar hoje para brilhar de novo na terça-feira(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Ricardo Oliveira desencantou contra o Fluminense e vai descansar hoje para brilhar de novo na terça-feira (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
 
 
No momento em que escrevo estas linhas retas, na esperança tola de fazer certo assim como Deus com suas linhas tortas, encontro-me há três dias sem luz, mergulhado nas trevas tropicais de uma pequena vila de pescadores na costa baiana. Sem geladeira, sem a bomba que traz a água do poço artesiano, com a raquete de pernilongo descarregada, sem televisão, sem internet, apenas uma nesga de bateria a informar as horas. Sem Galo.

Através de um impreciso telefone rural, cuja antena acha-se uma biruta de aeroporto, faço contato com o meu correspondente em São Paulo para assuntos de Atlético. Trata-se de Francisco, o meu Zero Um, de apenas 11 anos. Paulistano, poderia ter se tornado palmeirense, corintiano, são-paulino. Mas papai reservou a ele o filé mignon, e assim o Francisco tornou-se um embaixador do Galo onde quer que se encontre. Jamais fritou um hambúrguer em Lourdes ou Vespasiano, é verdade, mas sabe tudo o que se passa na Cidade do Galo.

Entre ruídos intergaláticos, Franciscolino informa que o Atlético joga hoje contra o Athletico. Antes que este recorresse ao H defenestrado por velhos acordos ortográficos, era preciso distingui-lo como Atlético Paranaense, já que Atlético mesmo, segundo o próprio presidente do Athletico com H, só há um – nóis. Pela proximidade territorial, e por odiento preconceito, costumávamos chamá-lo Atlético do Paraguai, ou seja, um Atlético falsificado, um Black Label daquelas plagas.

O H veio junto com um novo escudo e uma arena renovada. Disposto a ingressar na Nova Era, o presidente/dono do Athletico declarou apoio à eleição de Bolsonaro e ganhou o patrocínio das Lojas Havan, do empresário bolsonarista Luciano Havan – o Véio da Havan que ameaça processar aqueles que o chamam de Véio da Havan. Lotado na República de Curitiba, o Furacão é também o time do ex-juiz Sergio Moro, cada dia mais parecido com José Roberto Wright. Dia desses, inclusive, estava no Maracanã vestindo a camisa do Flamengo.
 
Em campo, o Athletico é um mistério parecido com o Fluminense: joga como nunca, perde como sempre. Sobretudo em casa, tem um futebol bonito e envolvente, ou pelo menos não abdica de buscar tal performance. Vai da vitória mais improvável ao tropeço monumental em questão de minutos. De qualquer forma, anda na cola do G-4. Representa um perigo, mas também uma oportunidade. Vai tirar ponto de muita gente grande na Baixada e fora dela, mas pode sempre entregar a rapadura.

Contra o Fluminense, na rodada passada, tivemos a experiência de enfrentar uma equipe empenhada em jogar o melhor futebol, sem rifar a bola, com toques rápidos e triangulações surpreendentes. Vencemos e, Deus é pai, o Pastor saiu da sua seca. Não sem antes desfilar o seu encosto em incríveis gols desperdiçados. Aquilo não era simplesmente uma zica, mas o próprio demônio encarnado. Mais um pouco e Ricardo Oliveira ia dar entrevistas falando em línguas. Sofremos no finzinho do jogo, mas apenas o nosso check-up cardíaco semanal e gratuito.

Bem podíamos repetir a dose na Arena da Baixada. Ganhar do Sergio Moro, do Véio da Havan. Passar Flamengo e Palmeiras, colar no Santos que a gente já conhece bem. Enquanto isso, descendo o poço como a Alice no buraco, comendo o pão que o Itair amassou, o Cruzeirão segue cabuloso rumo aos subsolos da tabela. A Lei da Gravidade cuidará do resto.

E então virá a semana que vem, quando iremos à Colômbia enfrentar um certo La Equidad pelas quartas de final da Copa Sul-Americana. Das trevas baianas, já posso enxergar a luz.
 

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