Jornal Estado de Minas

SAÚDE MENTAL

Janeiro Roxo: já imaginou viver em isolamento para sempre?

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Estigma, preconceito, julgamento, condenação. Várias doenças têm uma carga sociocultural extremamente desconfortável, estendendo os danos próprios da doença para todo o corpo por meio da piora da saúde mental. Além da campanha Janeiro Branco - que traz à tona a saúde mental, o primeiro mês do ano também marca a conscientização sobre a hanseníase por meio da campanha Janeiro Roxo.





"Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: 'Impuro! Impuro!'. Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morava fora do acampamento." Levítico 13,45-46 O texto bíblico nos mostra o quanto é difícil ser diferente ou ser portador de algo ainda incompreendido. Os espaços de isolamento para leprosos são famosos na história da humanidade, seja a ilha grega de Spinalonga ou seja a casa Santa Izabel, na região metropolitana de Belo Horizonte, uma famosa colônia fundada em 1921 para pacientes com diagnóstico de Lepra - Hanseníase. Em 1937, eram quase 4 mil pacientes. Uma mistura de proteção, isolamento, preconceito e prisão.

Com certeza você já ouviu falar de lepra e hanseníase, mas será que está atento e conhece os sintomas? Uma doença crônica causada por uma bactéria e transmissível para outros indivíduos. A bactéria Mycobacterium leprae é responsável por causar danos à pele, nervos, deformidades, além de perda de força e sensibilidade da sensação de dor.

Manchas na pele que, com perda de sensibilidade do toque e da dor, podem ser um sinal para investigar a hanseníase. Associado a isso podemos observar perda de pelos, dormência, caroços em mãos e orelhas, formigamentos, inchaços, feridas em membros, febre, dor nas juntas, sangramentos, ressecamento de olhos, perda de força. Quem não conhece o famoso artista que viveu na região de Ouro Preto, Antônio Francisco Lisboa, o 'Aleijadinho', autor de grandes obras do barroco e rococó mineiro, muitos relatos informam sobre a evolução da sua doença e também da evolução da sua capacidade de adaptar suas deformidades e declínios mas ainda sim continuar produzindo arte e cultura com excelência.





A doença estigmatizante tem cura, porém é necessário ser muito precoce para que as sequelas sejam as mínimas possíveis. O que encontramos é a negligência tanto do paciente com sua própria condição, mas também pelos colegas médicos que muitas vezes desconhecem esses sinais de alerta.

Apesar dos leprosários, colônias e isolamentos sabemos há um bom tempo que a hanseníase é transmitida através do contato direto das secreções do paciente infectado como saliva, muco e lágrimas mas não é necessário o isolamento e NUNCA deve ser tolerado o preconceito.

Nas últimas semanas o assunto hanseníase tomou a mídia pois relembraram o nosso código que, segundo a lei 9010 de 1995 "Art. 1º O termo 'Lepra' e seus derivados não poderão ser utilizados na linguagem empregada nos documentos oficiais da Administração centralizada e descentralizada da União e dos Estados-membros"; uma forma de reduzir a dívida histórica que temos com esses seres humanos
vítimas da ignorância.

O tratamento existe, é simples e nós temos condição de proporcionar cura e bem estar para aqueles que infelizmente manifestarem a doença. Se você precisou ficar isolado por Covid-19 por exemplo, imagine viver uma vida isolado, encarcerado por uma infelicidade e desconhecimento.