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Estado de Minas

Dicas de português


postado em 24/07/2019 04:00


Recado
“O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir enquanto se pensa noutra coisa.”

Mário Quintana

Língua, pra que te quero?
O presidente Bolsonaro chamou os governadores nordestinos de paraíbas? Muitos dizem que sim. Mas ele nega. Jura que se referiu a dois desafetos – o do Maranhão e o da Paraíba. Apesar da explicação, a história caiu na boca do povo. Sobraram comentários. Os mandachuvas da região se uniram e escreveram carta de protesto. O Planalto não respondeu. Mas uma questão ficou no ar: paraíba, no sentido de nordestino, é politicamente incorreto? É. Paraíba, como cabeça-chata, exprime preconceito, desqualificação. Xô! Xô! Xô!

Quer ser informativo? Identifique o estado de origem – maranhense, paraibano, pernambucano, cearense. Dizer quem é quem tem duas vantagens. Uma delas: ganha-se em precisão. O Nordeste tem vários estados. O falante se refere a um. Qual? É bom abrir o jogo. A outra: homenageia-se a pessoa. Quando identificada corretamente, ela se sente importante. Retribui. É a gentileza que gera gentileza.

Politicamente correto
Há palavras e palavras. Algumas informam. Outras emocionam. Há as que mobilizam para a ação. Todas têm hora e vez. Cuidado especial merecem as que ofendem ou reforçam preconceitos. Grupos organizados – movimento negro, movimento gay, movimento feminista – estão atentos aos vocábulos politicamente incorretos. Recomenda-se cuidado para não ofender nem agredir adultos ou crianças. Como? O vocábulo neutro está às ordens.

1. Alto, baixo, gordo, magro, grande, pequeno são relativos. Alguém pode ser alto pra uns e baixo pra outros. Faça bonito. Diga a altura, o peso, o tamanho: 1,50m, 1,95m, 50kg, pé tamanho 40.

2. Negro é raça. Nessa acepção, use-o sem pensar duas vezes. Pelé é negro. Não é escurinho, crioulo, negrinho, moreno, negrão ou de cor.

Por falar em negro...
1. Evite o adjetivo em expressões de conotação negativa. Em vez de nuvens negras, prefira nuvens pretas ou escuras. Em lugar de lista negra, fique com lista dos maus pagadores & assemelhados.

2. Apague denegrir de seu dicionário. Ele lembra negro. Prefira comprometer. Elimine também judiar, que remete a judeu. Substitua-o por maltratar.

3. Quer indicar cor? O preto está às ordens: Comprei um sapato preto. O pretinho básico deve fazer parte de todos os guarda-roupas. Não gosto de preto. Prefiro cores vivas.

Etc. e tal
Diga chinês, coreano, japonês (não: japa, china, amarelo); idoso (não: velho, decrépito, gagá, pé na cova); lésbica (não: sapatão, pé 44); pobre, pessoa de baixa renda (não: pobretão, pé de chinelo, ralé, mulambento, raia miúda, povão); pessoa com deficiência (não: portador de deficiência, aleijado, deficiente mental); religioso (não: papa-hóstia, igrejeiro, carola); travesti (não: traveco, boneca). Gordão? Nem pensar. Diga o peso. Veado? Xô! Fique com gay ou homossexual.

Moderação
Não exagere. Cabeleireiro é cabeleireiro, não hair stylist. Costureira é costureira, não estilista de moda (outra especialidade). Manicure é manicure, não esteticista de unhas. Empregada doméstica é empregada doméstica, não secretária do lar. Dona de casa é dona de casa, não do lar ou especialista em prendas domésticas. Cego é cego, mudo é mudo, surdo é surdo, surdo-mudo é surdo-mudo. Pessoa com deficiência nem sempre tem a precisão desses termos. Quando necessário, use-os sem constrangimento.

Era uma vez...
O radialista Airton Medeiros estava entrevistando ao vivo a presidente de uma associação de cegos em programada da Rádio Nacional. Tratava-a de cega o tempo inteiro até receber um papelzinho com a recomendação de que a tratasse como “portadora de deficiência visual”. Antes de obedecer à ordem, perguntou à entrevistada se deveria continuar tratando-a de cega ou de portadora de deficiência. Ela aproximou as mãos do rosto dele até tocar os óculos. Então, afirmou: “Portador de deficiência visual é você, que usa óculos. Eu sou cega”.

Leitor pergunta
Qual a regência do verbo abraçar? Abraça-se alguém ou a alguém?
 Mariza Marcondes, BH

Abraçar é transitivo direto. Abraçamos alguém: Abracei Paulo. Paulo abraçou Maria. Eu o abracei. Ele a abraçou.

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