Jornal Estado de Minas

DERMATOLOGIA

A saúde da pele durante a quimioterapia


O câncer é hoje a segunda principal causa de morte, sendo que a cada seis mortes no mundo uma está relacionada ao câncer. Isso se dá pelas características da doença que se baseiam na multiplicação rápida de células anormais que crescem além de seus limites habituais, invadindo outros tecidos e podendo se espalhar pelo corpo por meio do sistema circulatório. 





Uma de suas formas de tratamento é por meio da quimioterapia, tratamento que utiliza fármacos que se misturam ao sangue com o fim de destruir células tumorais. Essa forma de tratamento apresenta diversas modificações no organismo, pois as células tumorais são muito parecidas com as células normais e isso faz com que os tratamentos sejam inespecíficos, ou seja, atuam não só na morte de células cancerígenas, mas também na morte de células saudáveis. 

Quando essas transformações ocorrem nas células da pele, este quadro leva à diversos problemas dermatológicos como manchas, vermelhidão e inchaço nos pés e nas mãos e alterações no couro cabeludo. Vale ressaltar o estresse em que todos os pacientes são submetidos ao passarem pelo tratamento quimioterápico, não apenas pelo diagnóstico da doença em sim, mas também pelas transformações na autoimagem. 

Constantemente, a autoestima fica abalada e o aumento no nível de cortisol, hormônio liberado quando experimentamos altos níveis de estresse, eleva a predisposição à acne e dermatites. Quadros de doenças autoimunes também podem ser agravadas com o aumento do cortisol, causando pioras na pele de pacientes com vitiligo, psoríase, e eczemas.





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Essas alterações causadas pelo tratamento quimioterápico também atingem os anexos da pele, como unha e cabelos. A alopecia, ou queda de cabelo, é um dos sinais característicos de pessoas que passam pela quimioterapia. Esse efeito adverso está intimamente relacionado a mudança na percepção da autoimagem do paciente que contribui para elevação do nível de estresse e índices de depressão durante esse tratamento. 

A alopécia é consequência, principalmente, da redução da atividade da glândula sebácea, responsável pela lubrificação do pelo e hidratação da pele. Com a redução da lubrificação natural e baixa hidratação da pele, o bulbo capilar perde sua força e reduz seu metabolismo e o fio de cabelo não consegue condições ideais para passar pela fase de crescimento. Esse é o principal motivo pelo qual o paciente deve ter muita atenção com a hidratação da sua pele durante o tratamento.

Outra célula que pode ser responsiva ao tratamento quimioterápico são os melanócitos, células produtores de melanina. Quando essas células são hiperativadas pelo tratamento quimioterápico, o paciente pode apresentar manchas na pele, conhecidas como hiperpigmentações. Esse efeito adverso ocorre graças ao aumento na produção de melanina gerada pelas modificações biológicas da terapia e são ainda mais agravadas em áreas com exposição à raios ultravioletas e áreas de atrito, como axilas e virilha. 





Essa manifestação também afeta diretamente na autoestima do paciente e qualidade de vida agravando ainda mais os efeitos descritos anteriormente. Porém, é comum o desaparecimento de parte dessas manchas após alguns meses sem o uso dos quimioterápicos. Vale ressaltar, que, dependendo do fármaco administrado, o aparecimento de manchas pode ser mais rápido e também pode atuar em regiões distintas do corpo. 

Outro sintoma característico do tratamento é a síndrome mão-pé. Essa síndrome promove a vermelhidão, inchaço e dor nas mãos ou nos pés. Essa síndrome pode se agravar ao ponto de levar a redução da dose do fármaco administrado ou até mesmo a interrupção do tratamento. Ainda não há uma causa certa para esta síndrome, porém, teorias apontam que ela ocorre graças a toxicidade exposta pela terapia, que tem como consequência o aumento da taxa de reprodução de células da pele. 

Dito isso, é válido afirmar que quando falamos da pele de pacientes que passam pela quimioterapia estamos falando de uma pele extremamente sensível, vulnerável e alterada. Por isso, seu cuidado deve ser reforçado. São recomendados cremes com ação hidratante, antioxidante e ação anti-inflamatória para proteger, restaurar e acalmar a camada protetora da pele, com suas células e todos seus anexos. 

Vale comentar que cremes que também contenham ação cicatrizante, são importantes já que a pele extremamente fragilizada apresenta problemas de regeneração de feridas. Por fim, é grande a importância da utilização de cosméticos sem alergênicos, ou seja, produtos que não contenham essências, corantes e parabenos para que não desencadeie mais um processo inflamatório e prejudicial à pele.