Jornal Estado de Minas

Carnaval com 'c' minúsculo. A gramática nunca teve tanta razão

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Então é Carnaval. Ou será que é carnaval? Bem, a palavra carnaval, por designar uma festa de origem pagã, deve ser grafada com inicial minúscula. Mas, devido àquela regra segundo a qual é necessário colocar maiúsculas nas datas santas, como ocorre com Natal e com a Páscoa, fazemos confusão e escrevemos Carnaval. E desde quando o carnaval é santo, gente? Sei lá. Até mandei um WhatsApp para o meu amigo Padre Fábio. A resposta? “É data pagã, minha amiga. Festa da carne”. Bem, eu tentei.


Mas, caso você queira atribuir importância ao carnaval, será possível, sim, escrever com letra maiúscula. Porém, como vão saber que se trata de ênfase e não de erro? Ixi... É melhor manter o “c” minúsculo. E, falando em importância, parece que as pessoas estão preocupadíssimas com o carnaval alheio, né? Coitada da Alessandra Negrini. Eu não queria estar na pele dela. Minto. Queria sim. Está um calor danado. Só saindo com roupa de índia para aguentar.

Fora as prefeituras, né? Que papelão... Ou eu deveria dizer que cartilhão? Não, a palavra cartilhão nem existe. Mas, em Belo Horizonte, não pode mais usar fantasia de cigano, não pode mais usar peruca black power, não pode mais usar fantasia de baiana, não pode mais usar fantasia de índio, não pode mais usar roupa de mulher. Ufa! Até cansei. Ah, também não pode mais tocar “O teu cabelo não nega, mulata” e muito menos “Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é...”. Então a solução é cada um ir fantasiado de si mesmo e ouvir a própria música pelo fone. Resolvido.

Parece que se esqueceram do real sentido do carnaval: o caos consentido, a desordem voluntária, a inversão libertadora. Pelo andar da carruagem – ou do carro alegórico –, a tradicional Banda Mole, que há 45 anos faz a alegria do folião disposto a se travestir de mulher, tem os carnavais contados. Triste, triste, triste. É... O carnaval deveria ser escrito com letra minúscula mesmo. A gramática nunca teve tanta razão.