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Calor pandêmico

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Nos últimos dias, a ficha deve ter começado a cair até para os mais céticos negacionistas climáticos. Recordes de temperatura foram registrados em várias regiões do país, seguidos de temporais e mortes.





Na sexta-feira passada, a universitária Ana Clara Benevides Machado, de 23 anos, morreu após “passar mal” durante um show no Rio de Janeiro, onde a temperatura estava acima dos 42 graus. Soma-se à temperatura esturricante, a grama sintética, a aglomeração de pessoas, equipamentos eletrônicos e placas de metal. Uma verdadeira frigideira.

Mas, qual o impacto do calor extremo enquanto problema de saúde pública e na vida de cada um de nós? A resposta para essa pergunta foi dada pelo Dr. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, Médico, professor aposentado da UFMG e cartunista (LOR), num texto brilhante que me foi encaminhado  pelo próprio autor para comentários.

Convido-os a conhecer o texto na íntegra na versão on-line dessa mesma coluna. Divulguem-no para todos que você ama e cuida, até mesmo para amigos médicos, sobretudo para aqueles que trabalham em pronto-atendimento.





Com a genialidade e sensibilidade que lhe é peculiar, Lor ilustrou o próprio texto com uma charge espetacular e repleta de simbolismo. O texto, intitulado “Vamos proteger as pessoas mais vulneráveis na crise climática?”, começa com o relato de uma investigação realizada por ele e duas alunas de pós-graduação da UFMG de uma série de óbitos ocorridos durante uma onda de calor no início de 1998, quando o Brasil passava pelo fenômeno El Niño - menos intenso do que o atual. Doze bebês e 54 adultos haviam morrido supostamente de “infecção hospitalar”. Os recém-nascidos na maternidade Alexander Fleming e os demais no Hospital Estadual Carlos Chagas, ambos na zona norte do Rio de Janeiro.

Após aferirem as condições térmicas ambientais nas instalações hospitalares onde ocorreram as mortes, contatou-se que o ambiente era de alto risco para hipertermia e a maioria dos bebês e dos adultos falecidos poderia ter morrido em consequência de choque hipertérmico , uma condição na qual o organismo não consegue dissipar o calor e evolui para uma situação parecida com a septicemia.

Algumas semanas depois, os exames laboratoriais confirmaram que as mortes não haviam sido causadas por infecção hospitalar. Equivocadamente, alguns veículos de imprensa atribuíram as mortes à desidratação. Em pouco tempo, o assunto esfriou e as vítimas da onda de calor foram esquecidas, pois a crise climática parecia distante e - para os negacionistas - era ficção científica.





O pesquisador e suas colaboradoras partiram para uma investigação de campo, a qual revelou as condições das vítimas. Os bebês na maternidade Alexander Fleming (mantidos na incubadora quente, APESAR do calor no ambiente) e as pessoas que morreram no hospital público eram, em sua maioria, mulheres, pobres, pardas ou pretas, idosas e idosos, moradoras e moradores em barracos precários da periferia. Muitas das casas eram de telhado metálico, sem ventilação e extremamente quentes, o que explicava porque cerca de 60% das vítimas chegavam mortas ao pronto-atendimento.

Lor chama atenção para o fato do aumento de óbitos durante ondas de calor ser relatado em diversas pesquisas científicas, inclusive durante uma nova onda de calor no mesmo Rio de Janeiro, em 2010, pela climatologista Renata Libonati.

Ressalta ainda que, 25 anos depois, o capitalismo devastador não reduziu o desmatamento e nem a emissão de gases de efeito estufa, então a crise climática se tornou emergência em saúde pública mundial e a população brasileira pode estar entre as mais vulneráveis do planeta.

Não deixem de visitar essa mesma versão da coluna on-line do EM e ver os detalhes do diagnóstico e tratamento dessa importante entidade nosológica, a qual já é uma nova pandemia de consequências devastadoras para a humanidade.

Obrigado Lor, pelo brilhante e oportuno texto.