Bebel Soares
Mais um ano termina, muita coisa mudou. Hoje, sou mãe de um adolescente e, confesso, nunca disse para ele que você existe. Também nunca disse que você não existe.
Desde pequenininho ele tira fotos com você, ele sempre foi fã da sua barba branca e, aos 8 meses, já dava risadas quando te via. Ele cresceu um pouco e, um dia, me perguntou:
- Mãe, Papai Noel existe?
Eu respondi que você existe para quem acredita, e que não existe para quem não acredita, que a gente podia escolher acreditar ou não. E foi assim que seguimos acreditando na fantasia e nunca mais sua existência voltou a ser questionada. Foi assim que eu, que não acreditava em você desde os meus 6 anos, voltei a acreditar. É gostoso acreditar em coisas que nos fazem bem. A vida pede doses diárias de ilusão e fé.
Papai Noel, o ano está acabando e eu ainda não entendi nada! Parece que um piano caiu na minha cabeça e eu ainda estou tentando entender onde estou! 12 meses se passaram e eu nem vi. Teve eleição, teve Copa e a gente ainda torceu para a Argentina na final.
Passei a última semana sozinha em casa, marido e filho viajaram juntos, eu fiquei para estudar e ter esse tempo só para mim. Férias da maternidade; como é maravilhoso ter uns dias para ficar só comigo mesma. Quando os filhos nascem a gente vai deixando de ter vida própria, vai vivendo em função deles e, às vezes, nem nos lembramos de quem nós éramos antes de ser mães.
Em outros tempos, eu sentiria solidão. Sentiria um vazio, uma falta. Hoje, não. Hoje eu sou uma boa companhia para mim mesma. Quem diria, Papai Noel, que eu sentiria essa paz passando dias sem ver ninguém pessoalmente. Sabendo que meu marido e meu filho estão bem sem mim. Fora que filho adolescente também precisa de férias de mãe, ainda mais quando a mãe é dessas que fica em casa o dia todo, que controla tempo de tela, que pede para arrumar o quarto, que leva e busca na escola.
Ah, Papai Noel, me dê sabedoria para ser mãe de adolescente. Para entender que ele ainda me ama, mas ele já não precisa tanto de mim. E o que o pouco que ele ainda precisa ele não quer precisar. Que eu consiga equilibrar melhor os pratinhos da maternidade, do casamento, do trabalho, do lazer.
Papai Noel, não preciso de presente, só quero continuar tendo coragem. Coragem: essa palavra vem me perseguindo há um tempo. Volta e meia ela aparece em uma frase, texto, recado, e eu sem entender o que isso tinha a ver comigo. Até que, ao buscar inspiração para escrever sobre gênero, me deparei com um vídeo do TED que materializou o que ela queria me mostrar: “Ensine as meninas a ter coragem, não a serem perfeitas.” Essa frase também se aplica a nós, mães.
Quantas chances preciosas foram perdidas, mesmo com todo preparo e capacidade necessários, porque consideramos que o resultado não seria perfeito nem ideal? Nos resta buscar a coragem para fazer o que acreditamos no lugar da perfeição para fazer o que esperam de nós.
Tenhamos coragem para ver os filhos crescerem e voar com suas próprias asas. Coragem para continuarmos aprendendo, vivendo, sentindo. Coragem para continuar escolhendo acreditar na fantasia.