Jornal Estado de Minas

BEBEL SOARES

O golpe das agências de modelo e de casting

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Não é de hoje que eu recebo mensagens de pessoas que dizem ser de agência de modelo, em busca de alguém com o meu perfil. Ou com o perfil do meu filho. Mas parece que isso se intensificou nos últimos meses.




 
Nos grupos de mães, sempre tem alguma mãe coruja feliz porque uma agência quer fazer teste com seu filho, sua filha. Essas mães entram nos grupos para perguntar se alguém co- nhece o trabalho dessas agências.
 
Imagino que também deva estar acontecendo com vocês. Já faz um bom tempo que fico recebendo direct de pessoas dizendo que são da agência de modelos tal, que gostou do meu perfil, ou que gostou do perfil do Felipe. Nos últimos meses, passamos a ser abordados na rua. Aquele papo, “você é muito bonita, seu filho é muito bonito, você já pensou em ser modelo?”. Sempre falei com o Felipe que isso tinha cara de golpe, que em algum momento eles devem dar um jeito de fazer você pagar qualquer coisa. Também falo que se um dia ele quiser ser modelo, ele pode me falar que vamos procurar uma agência séria.
 
Outro dia, fomos abordados novamente. A mocinha fez todos aqueles elogios forçados, e perguntou se eu não gostaria de conhecer a agência e falar com a gerente dela. “Você é muito bonita, seu perfil tem sido muito requisitado, tem uma marca de joias que procura alguém como você...” Para o Felipe, ela perguntou se ele não gostaria de ser youtuber. Fiz sinal para ele e ele topou ir lá conhecer a agência comigo. 




 
Entramos no prédio, fiz o cadastro na portaria, subimos. A agência estava lá, com o nome enorme atrás do balcão da recepcionista. Várias pessoas sentadas nas poltronas espe- rando alguma coisa. Fomos en- caminhados para a sala da ge- rente. “Quanto você mede? Qual é a sua idade? Você já trabalhou como modelo? Nós não trabalhamos com book, não gostamos de deixar books empoeirando nas prateleiras. Nós fazemos fotos e apresentamos para nossos clientes.”
 
Há uns anos, era esse tal de book, tinha gente que pagava uma fortuna para fazer um book e ficava com aquilo para guardar de lembrança. Hoje, como muita gente já sabe do golpe do book, mudaram a abordagem.
 
“Você topa fazer algumas fotos para testarmos se você é fotogênica? Você é muito bonita, mas precisamos ver se você fica bem nas fotos.” Já fui pensando que podia ser nesse mo- mento que eles iam me cobrar para fazer as fotos, perguntei e a moça disse que não tinha que pagar pelas fotos, que era só para ver se eu sou fotogênica. Fui lá fotografar.
 
Na sala onde funciona o estúdio de fotografia, uma arara com umas peças de roupa bem cai- dinhas, um monte de sapato de salto gasto jogado no chão, no canto. Duas poltronas para espe-ra. Duas cadeiras para maquia- gem, um tablado com iluminação onde a fotógrafa fazia fotos de um rapaz de cabelos tingidos de amarelo.




 
O maquiador não fez muita coisa, eu já estava usando uma maquiagem leve naquele dia, ele apenas reforçou o blush. Eu estava de tênis, me deram um salto gigante para colocar. Subi no tablado e a fotógrafa foi me orientando naquelas poses clichê de propaganda de jeans cafona dos anos 1980. Acharam meu sorriso tímido, mas não era timi- dez, era vergonha mesmo de estar ali. Não consegui disfarçar, mas precisava saber até onde eles iriam.
 
Terminada a minissessão de fotos, vou à sala da gerente: “Parabéns, você foi aprovada! Sua nota foi 89 em 100.” Me mostrou várias fotos de modelos deles, disse que logo teria traba- lho para mim e que, para me agenciar, eu teria que pagar R$ 5 mil. “Nós não trabalhamos com exclusividade, você pode ser  agenciada por outras agências, se quiser.” Continuei olhando para ela com aquela expressão blasé. “Posso fazer por 5 parcelas de x.” Não me lembro o valor, mas dava bem menos de R$ 5 mil.
Confirmadas as minhas suspeitas, disse que ia pensar, agradeci e fomos embora. Na rua, Felipe diz: “Bem que você falou que eles só querem tirar dinheiro das pessoas!”
 
Nenhuma top model teve sua carreira construída traba-lhando em mais de uma agência ao mesmo tempo. Se disserem que não tem contrato de exclusividade, desconfie. Se pedirem dinheiro, desconfie! Estão elogiando muito? Desconfie.




 
Entrei no perfil da agência e só vi um cliente deles, uma marca de meia que eu não co-nhecia. Eu também nunca tinha ouvido falar na tal agência, mas ela não é a única que utiliza es- sa prática de procurar pessoas nas ruas ou nas redes sociais.
 
Fiquei pensando em todas as pessoas que estavam ali fazendo as fotos na ilusão de conseguir algum trabalho. Se pegam uma pessoa com baixa autoestima, ou uma mãe que acha a filha maravilhosa, e acredita que ela pode seguir carreira de modelo. A pessoa paga e acha que vai ser convidada para alguma campanha e vai começar uma carreira promissora. A pessoa não tem de onde tirar dinheiro, mas dá um jeito de pagar, achando que vai ter retorno.
 
Se você quer entrar nessa carreira, ou quer que seu filho, sua filha, sua neta seja modelo, procure agências sérias. Pegue re- ferência com mães de modelos que já trabalham na área. Cuidado para não jogar seu dinheiro fora com pessoas que vão lhe dar falsas esperanças. 
 
São muitas as denúncias no Procon e em sites como o Reclame Aqui. Sempre pesquise para não cair em golpe!