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Te conheci em 2009. Te achava confuso, mas acabei ficando para tentar te entender. Postava uma ou outra foto, fazia uns desabafos nesse relacionamento superficial. As coisas começaram a mudar em 2011, naquele início de ano eu criei um grupo chamado Padecendo no Paraíso. Nem sabia como funcionava esse lance de grupo, mas criei para ter um espaço para conversar com outras mãe. Eu me sentia só, sem ter com quem conversar sobre aqueles assuntos tão específicos.





Você me propiciou coisas que meu ex, o Orkut, não tinha me dado. Depois de alguns anos de relacionamento, consegui ver que eu estava em uma relação tóxica com você. Me deixei levar por seus algoritmos. Eles passaram a me mostrar apenas um recorte do mundo, que não era o que eu queria, ou precisava ver. Era o que você achava que era bom para mim. Você estava errado. Eu precisava de mais.

Abri o relacionamento, conheci o Instagram, reatei com o Twitter, flertei com o TikTok e fiz de tudo para não me tornar a tia do Zap. Meu queridinho do momento é o Instagram, embora você tenha conseguido tirar o que ele tinha quando meteu esse algoritmo que deixa todo mundo vendo mais do mesmo.

Admito, apesar de tentar me manter com uma viseira de burro puxador de carroça, você me proporcionou coisas incríveis. Quem podia imaginar que, depois dos filhos, era possível fazer tantas novas amizades. Algumas só virtuais, mas sabe, eu realmente posso contar com elas, e elas comigo. Talvez por isso eu ainda tenha um certo apego por você. Não por você, mas pelas pessoas que encontro quando estou com você.





Verdade que a sanidade mental eu só consegui manter porque posso bloquear as pessoas. Verdade que foi por você que eu criei uma comunidade de mães, e dali saiu tanta coisa bacana. O problema, é que, no geral, você se tornou mais uma ferramenta de lavagem cerebral. Foi por você que eu vi as pessoas enlouquecendo, disseminando mentiras. E você não fez nada. Foi por você que vi pessoas querendo ser “influencers”, e se preocupando com números. Quanto mais curtidas melhor. Pagando por seguidores e curtidas. Difícil encontrar um equilíbrio numa relação com você.

Estamos começando a entender que a vida que as pessoas mostram nas mídias sociais não é de verdade, é apenas um pequeno recorte. Como bem disse meu psiquiatra, Luís Augusto Malta:

“Uma coisa esquisita que as redes sociais trouxeram foi a sensação de irrelevância para quem não sabe direito como lidar com as métricas de sucesso dessas plataformas. Ter seu conteúdo lido ou assistido por, sei lá, 15-30 pessoas pode ser algo muito legal – 30 pessoas pararam o que estavam fazendo para prestar atenção em você. Poderiam estar lendo um best-seller de Paulo Coelho ou assistindo a uma entrevista do Jô Soares, mas preferiram estar ali, com você, naqueles preciosos minutos.

Mas a coisa toma uma dimensão completamente diferente se você acha que tem que arrastar multidões de tietes digitais, que parecem doidos para saber em qual praia badalada você está indo ou qual grife você está vestindo. Não caia nessa! Influenciadores vão e vêm, seu conteúdo fica.





Eles sempre existiram e continuarão existindo, movidos (e moídos) por marqueteiros cínicos e calculistas interessados apenas em vender milhões e você não precisa ser mais um deles. Apenas faça seu conteúdo e aprenda a amar seu pequeno público. O que você faz é muito mais relevante do que pode imaginar.”

O mundo se divide em pessoas que influenciam e pessoas que são influenciadas. As mídias sociais potencializam isso. As consequências de toda a lavagem cerebral a gente vê todos os dias. Pessoas que deixam de se vacinar, pessoas que duvidam da ciência, terraplanistas, negacionistas.

Andei olhando o feed de muita gente nos últimos dias. Fiquei deprimida. Sabia que era tóxico, mas não tinha visto que era tanto. Assustador. Que ferramenta ultrajante você se tornou. E como é difícil sair dessa lama quando estamos atolados até o pescoço. E o pior é que você não está só! Você tem uma Meta, e a gente que não se meta.