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A pandemia do fim do mundo

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Não se sabe ao certo em que lugar do planeta tudo começou. Jovens feministas de todo o mundo entraram em greve reprodutiva. Recusaram-se a  assumir sozinhas todo o peso e custo da maternidade.



Recusaram-se a ter filhos até que a sociedade se organizasse para dividir a carga. As taxas de natalidade despencaram nos países desenvolvidos. Naqueles países, as mulheres tinham recursos e podiam escolher.

Em países mais pobres, a população permaneceu crescendo até que, misteriosamente, todas as mulheres foram ficando inférteis. Até que, um dia, não existia mais uma gestante no planeta. Cientistas buscavam descobrir a causa. Tentavam fertilização. Nada. As mulheres se tornaram incapazes de manter os fetos em seus úteros.

Os anos passavam e não nascia ninguém. A economia mundial entrou em colapso. Não havia mão de obra jovem para sustentar os idosos. De nada adiantava ser um bilionário, poder viajar para Marte, colonizar outros planetas. Tentaram gerar bebês fora do útero, tentativas vãs. Era uma pandemia de infertilidade.
 
Muitas mulheres queriam ser mães, mas nem toda a vontade do mundo era capaz de fazê-las gerar bebês. Os homens se revoltaram. A responsabilidade era feminina. Eles não tinham culpa. Se mulher não podia ter filho, não servia para mais nada.





No Afeganistão, o Talibã culpou as mulheres, violentadas, torturadas, mortas por não conseguirem ter filhos. Sequestravam mulheres de países vizinhos, mas nenhuma delas era capaz de gerar. Consideraram-nas inúteis e as eliminaram. Foi o primeiro país a extinguir toda a população feminina. Exterminada e culpabilizada pela infertilidade. Restaram os homens, que, em ataques de fúria, matavam-se uns aos outros.

Depois do Afeganistão, veio a extinção das mulheres da República Centro-Africana, da Costa do Marfim, Iêmen, Nigéria, Brasil, Índia, República Democrática do Congo, Síria...

A população mundial foi sendo drasticamente reduzida pelo feminicídio, pela fome, pelas guerras. Os cientistas foram considerados inimigos da humanidade diante da impotência em conseguir fazer com que as mulheres voltassem a ter filhos. Diziam que as vacinas eram responsáveis pela grande praga da infertilidade. Em nome de Deus, torturavam e matavam.





O fim estava próximo. O que sobrou estava se autodestruindo.

O que eles não sabiam é que em alguns lugares mais isolados do planeta, mulheres se refugiavam e buscavam a cura. Junto delas havia muitos homens. Homens que haviam sido encarregados de matá-las, que fingiam cumprir a missão, e as levavam para lugares seguros. Homens que entenderam a necessidade de apoiar a causa feminista. Ou seja, na luta pela igualdade de gêneros e pela participação da mulher na sociedade.

Nessas aldeias, todas as pessoas eram tratadas com equidade. Não havia espaço para nenhum tipo de discriminação. Nas aldeias, as pessoas tinham os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades. Todos eram responsáveis pelo grupo. As aldeias tinham um sistema de comunicação muito desenvolvido, elas se comunicavam entre si, independentemente da localização de cada uma.

Foi numa dessas aldeias que, depois de muitos anos, nasceu o primeiro bebê. Gerado por uma avó, cuja filha havia sido exterminada, mas deixara óvulos congelados. Aos poucos, as mulheres em idade fértil começaram a engravidar e crianças passaram a nascer com saúde.

Depois de todos aqueles anos de infertilidade, algumas coisas haviam mudado no sistema reprodutivo feminino. Só era possível engravidar se atingissem o orgasmo na relação sexual.

E assim o planeta foi repovoado. Com divisão de tarefas, com divisão da responsabilidade pela criação dos filhos entre os pais e toda a sociedade. E com muito amor e sexo.






audima