Jornal Estado de Minas

PADECENDO

Amarelo esperança

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Fechando 2020, começaremos um novo ciclo. 2021 vem carregado de expectativas: vacina, tratamentos, reabertura das escolas, segunda onda, despedidas. O que será? Nos resta esperar, com esperança.
Não tenho muito a agradecer. Aprendizado? Resiliência? Autoconhecimento? Nos tornamos mais fortes? Me recuso a romantizar 2020. Este ano me deu a sensação de ter morrido e estar vagando num purgatório. Um purgatório cheio de negacionistas. Individualistas. Egocentrados.




 
De meio do caos chega um presente. Amarelo esperança: AmarElo.
Amar elo. AmarElo: é tudo para ontem, do Emicida.
 
É com esse documentário que quero terminar 2020.
 
AmarElo é um presente. Um presente para o Brasil. É genial. Me faz sentir um conforto que eu não sentia há muito tempo. Eu não pertencia a lugar nenhum. Então caí no Teatro Municipal, ali, dentro da tela da minha TV. Naquele momento tudo fez sentido. Eu caibo naquele lugar. Eu sou bem-vinda. Eu sou aceita. Do jeito que eu sou. E todo mundo que está ali se sente da mesma forma. Entrei ali e não quero mais sair. Aquele lugar, com aquelas pessoas, faz sentido.
 
Uma aula de história. A aula que não tivemos na escola. Que não pudemos ter por causa de um projeto de esquecimento, de apagamento, de branqueamento. Uma história que é de todos os brasileiros, é nossa. História que nos foi roubada.




 
AmarElo é uma aula que o país inteiro deveria assistir. Deveria estudar nas escolas. Discutir nos grupos de amigos e em rodas de conversa. Assistir em família.
 
Meu filho já me perguntou se eu não vou parar de assistir, estou vendo, e vendo, e vendo, todos os dias. E quando paro de ver, vou escutar as músicas. Ele diz que já está chato, eu respondo que sinto muito. Há muitos anos não sentia essa vontade de ver, e rever uma coisa que eu achei muito boa.
 
Emicida reescreve a história apagada. Decompondo o preconceito. “A missão de devolver a alma a quem um dia sentiu que não teve uma.” Os últimos 100 anos de cultura negra, tocando nas feridas, falando das lutas, e ele consegue ser leve. Ele sabe o poder do coletivo. Poder transformador. Ela fala das soluções coletivas para que sejamos uma sociedade melhor.
 
Se eu sempre senti que estava do lado errado da história. Vendo AmarElo eu me sinto voltando, chegando onde eu deveria estar. São sensações que não sei se cabem em palavras. Porque ele não me exclui. Ele me acolhe. Ele soma. Ele multiplica. Ele nos une. Emociona. Arrepia.




 

Eu nunca fui excluída. Eu sempre pude ocupar esses espaços. E dividir todos esses espaços com quem sempre foi excluído me devolve a sensação de pertencimento. Eu não tinha perdido minha alma, mas estava perdendo a minha fé. Se o slogan do Padecendo sempre foi “o amor é o que nos une”, AmarElo, uma palavra só, amplifica e agrega todos os elementos que eu sempre acreditei que existem nesse amor de mãe.
AmarElo é o amor que liberta, que fala de democracia racial sem esquecer “não tem como lutar por liberdade pela metade” e soma a essa luta o combate ao preconceito de classe e de gênero.
 
Desejo que em 2021 nós possamos seguir juntos implodindo as estruturas que nos colocaram onde estamos hoje, explodindo as correntes de ódio. Ainda existe espaço para ser ocupado por quem sempre foi excluído, e assim será.
 
Emicida, obrigada por esse presente!
#oamoréoquenosune


audima