Amanhã, 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e aproveito essa data para apresentar aqui algumas pesquisas que apontam caminhos para a redução das taxas de autoextermínio entre a população trans e travesti. Mas antes é importante entender um pouco de como se dá essa relação entre suicídio e a nossa comunidade.
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Como o racismo afeta a saúde mental da comunidade negra?Mercado de trabalho: pessoas trans vivem na informalidadePessoas negras têm 4,5 vezes mais chances de sofrerem abordagem policialPor que empresas têm dificuldades em contratar minorias?Falta de representantes políticos prejudica políticas para pessoas transA demora na fila do SUS para cirurgia de redesignação sexual Encarar essas situações, comentários, “piadas”, julgamentos e preconceitos todos os dias é muito desgastante, machuca, cria um sentimento de não pertencimento e leva nossa saúde mental à exaustão. Não é à toa que estudos sobre saúde de pessoas transgêneros, da revista The Lancet, revelaram, em 2018, que aproximadamente 60% da população transgênero sofrem de depressão.
Já um estudo do National Center for Transgender Equality revela que 40% das pessoas trans tentaram autoextermínio. Além disso, a pesquisa da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, aponta para o fato de essa comunidade pensar em suicídio 14 vezes mais em comparação à população geral.
Levantamentos nacionais também corroboram essa ideia. Uma pesquisa realizada em 2015 pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT e pelo Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG ouviu 28 homens trans e constatou que 24 deles, o equivalente a 85,7%, já cogitaram ou tentaram o suicídio.
Diante desses dados alarmantes, o que a ciência já aponta como ações preventivas para reduzir o autoextermínio entre a população trans e travesti?
Segundo um estudo publicado no periódico científico médico Jama Network Open deste ano, jovens não-binários e transgêneros que recebem atendimento de saúde especializado, incluindo tratamento hormonal de afirmação de gênero e bloqueadores de puberdade, tiveram uma redução de 60% de quadros de depressão e 73% nos pensamentos suicidas um ano após o início do atendimento.
O estudo foi realizado entre adolescentes e jovens transgêneros e não-binários entre 13 e 20 anos para avaliar o impacto da terapia afirmativa na saúde mental. No início do estudo, 59 (56,7%) foram diagnosticados com depressão moderada a grave, 52 (50%) apresentaram sintomas de ansiedade e 45 (43,3%) relataram pensamentos suicidas ou automutilação.
66,3% dos pacientes receberam bloqueadores de puberdade, terapia hormonal ou ambos, enquanto 33,7% não receberam nenhum medicamento ou bloqueador hormonal. Após um ano de terapia afirmativa, alguma forma de depressão foi reduzida em 60% e os pensamentos suicidas em 73%.
Ainda segundo a pesquisa publicada no periódico científico médico Jama Network Open, os adolescentes sem acesso a esses serviços foram duas vezes mais propensos a sofrer de depressão moderada a grave três meses após o início dos cuidados de saúde, e quase três vezes mais propensos a ter pensamentos suicidas ou tentativas de automutilação seis meses depois.
Outra pesquisa, realizada em 2018 e publicado no site Journal of Adolescent Health, mostra que respeitar nome social reduz riscos de suicídio e depressão. Os pesquisadores conversaram com 129 jovens transexuais, incluindo não-bináries e gênero fluido. A pergunta principal era relativa a quais contextos o nome social é aceito na vida dessas pessoas, por exemplo: elas são chamadas como gostariam em casa, no trabalho, na escola e com os amigos?
De acordo com o estudo, quem pode usar o nome escolhido em mais ambientes apresenta até 71% menos sintomas de depressão, pensa 34% menos em suicídio e tem o risco de tirar a própria vida reduzido em 65%, em comparação aos entrevistados que são constantemente chamados de outras formas.
Ou seja, aqui apresentei algumas ações que a ciência já aponta como caminhos para reduzir o índice de suicídio entre a população trans e travesti. Caminhos que envolvem a não violação de direitos, como o respeito ao acesso à saúde e diferentes formas de acolhimento.
E se você é uma pessoa trans ou travesti que precisa de atendimento psicológico ou psiquiátrico, mas no momento não tem condição de pagar uma consulta, tenho a indicação de uma lista de profissionais que atendem de graça ou com um valor acessível. É só me procurar nas minhas redes sociais (@arthurbugre).
Além disso, no Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza trabalho de escuta e acolhimento das pessoas em sofrimento, pelo site e pelo telefone 188.