Jornal Estado de Minas

MERCADO DE TRABALHO

Qual a realidade dos profissionais negros no mercado de trabalho?


Faço parte de um grupo incrível de profissionais negros e negras que se reúne online a cada 15 dias. Todas as pessoas que compõem esse grupo são lideranças em suas áreas, ou seja, muitos ocupam cargos na diretoria, na coordenação, são supervisores, gestores e, em alguns casos, CEOs. 



Nesse grupo, o aquilombamento é intenso. Existe muita troca de experiência, conhecimento, vivências, oportunidades, muito afeto e acolhimento. E em alguns encontros, conversamos muito sobre o seguinte assunto: como foi e como ainda é dificil conquistar um espaço no mercado sendo um profissional negro. 

Como já falei aqui, os integrantes desse grupo são lideranças negras em suas áreas e muitos já possuem pós-graduação, mestrado e doutorado. Alguns já realizaram vários intercâmbios e até já moraram fora do Brasil por anos. Muitos já possuem inglês avançado e sempre buscam cursos e treinamentos para se atualizarem. 

Mesmo diante de tanta dedicação, capacitação e investimento na vida profissional, muitos do grupo compartilharam muitas experiências de portas fechadas e o racismo institucional é o principal motivo apontado pelo grupo.



Apontamento que também aparece em uma pesquisa realizada pela empresa de tecnologia de recursos humanos, InfoJobs. O estudo revelou que 85% dos profissionais negras e negros acreditam enfrentar dificuldade para conquistar colocação no mercado de trabalho, mesmo se qualificando, quando comparados a um candidato branco. Das 1.567 pessoas que participaram do levantamento, 71% se identificaram como pretas ou pardas.

Segundo os dados do estudo, 65% dos entrevistados que se identificaram como negros afirmaram nunca ter vivenciado preconceito racial no processo seletivo. Mas outra estatística da pesquisa contrasta com esse dado: quando perguntados se as questões raciais dificultam a entrada no mercado de trabalho, 75% disseram "sim" ou "às vezes".

Além disso, o levantamento também mostrou, que para 90% dos entrevistados negros, os preconceitos sociais e raciais estão associados. 

Muitas vezes, o racismo institucional se apresenta em formas sofisticadas e “sutis”. Ou seja, é difícil identificar. Um olhar, a forma de tratar, o desdém na fala e perguntas racistas maquiadas de “curiosidade”. E, claro, algumas empresas não demonstram racismo durante o processo seletivo, mas quem realiza o recrutamento e seleção já tem a orientação direta ou indireta para “evitar” contratar pessoas negras. 



E por essas “sutilezas” e sofisticações, na prática, é muito difícil denunciar o racismo institucional que se manifesta durante processos de recrutamento e seleção. Conheço pessoas negras que tentaram denunciar situações semelhantes e nada foi feito.

Principalmente porque muitas empresas no lugar de receber as denúncias, investigar o que está acontecendo e procurar caminhos concretos para resolver essa questão tão importante, simplesmente ignoram as denúncias ou então mais que depressa batem no peito e dizem que são diversas, que são plurais.

Mas quando você coloca uma lupa em cima do quadro de pessoas contratadas, nas lideranças e alta liderança da instituição, mal mal você vê três profissionais negros e negras.
 
Com certeza você já escutou frases semelhantes em processos seletivos: “o candidato/candidata precisa ter boa aparência”. Essa expressão de maneira geral já é muito problemática e ilegal, e claro, “boa aparência" aqui está  associada a cabelos lisos, traços do rosto finos e pele clara. 

Tanto que até hoje muitos profissioanis negros e negras sentem a pressão do mercado de trabalho para realizarem “adequações estéticas”. Por exemplo, até hoje algumas empresas evitam contratar profissionais negros com cabelo no estilo black power/volumoso. Além disso, muitos profissionais negros já contratados, muitas vezes precisam raspadar ou alisado o cabelos. 

Essas situações não podem ser naturalizadas!