Jornal Estado de Minas

DIVERSIDADE NAS REDAÇÕES

Por que parte da imprensa ainda insiste em ignorar o racismo nas redações?

 
 
O jornalismo pode ser um grande aliado na luta contra o racismo no Brasil. Mas na prática, a imprensa brasileira precisa avançar muito nesse sentido. Quer provas? Quantos jornalistas negros e negras você conhece? Provavelmente poucos, não é mesmo? Já se perguntou porque isso acontece? 
 
Segundo o estudo “Perfil Racial da Imprensa Brasileira”, realizado pelo Jornalistas&Cia, 77,6% dos jornalistas das redações de todo o país são brancos, enquanto apenas 20,1% são negros. Vale lembrar que as pessoas negras representam mais da metade (56%) da população brasileira, segundo o IBGE. 




 
Além disso, de acordo com a pesquisa “Perfil Racial da Imprensa Brasileira”, 61,8% dos jornalistas brancos disseram ocupar cargos gerenciais. Já entre os profissionais negros, apenas 39,8% ocupavam essas funções.
 
Ou seja, as decisões dentro das redações no país são realizadas majoritariamente por pessoas brancas. Jornalistas negros e negras enfretam muitas barrerias para ocuparem postos de liderança ainda. 
 
Ainda de acordo com o estudo, entre os jornalistas negros, 41,7% recebem salário até R$ 3.300, em comparação a 22,9% entre os brancos. Além disso, o levantamento identificou uma maior necessidade de um segundo emprego entre os jornalistas negros. A pesquisa também aponta que 57% jornalistas negros e negras  entrevistados identificam discriminação e 98% dizem enfrentar barreiras na carreira. 




 
Seja pela falta de representatividade, pela  falta de oportunidade de ocupar cargos de liderança ou pelas tantas  "brincadeiras", “piadas”, frases ofensivas e maneiras mais “sutis” de promover a exclusão e expulsão, o racismo estrutural também está presente nas redações no Brasil. 
 
Diante disso tudo, muitos jornalistas negros e negras que conseguiram um espaço no mercado de trabalho não têm o sentimento de pertencimento quando olham para a redação. Alguns se sentem mal, deslocados, não representados, silenciados e desvalorizados. E nesses ambientes, muitos sofrem humilhações e perseguições. 
 
Para mudar essa situação, é necessário gerar oportunidades de forma prática. Ou seja, os veiculos de comunicação precisam se comprometer em promover programas de trainee voltados para profissionais negros e negras. Além disso, é necessário oferecer vagas e treinamento para lideranças negras dentro da redação. 




 
Também é necessário apresentar um ambiente de trabalho que seja uma ilha de acolhimento para a comunidade negra. Para isso é necessário criar um programa de diversidade e inclusão que ofereça palestras, treinamento, mentorias e outras ações de D&I. Isso vai gerar conscientização e sensibilizar a equipe. 
 
E não para por aí. É importante dar atenção para a definição de pautas e fontes nas redações. Ou seja: qual é o espaço que pautas étnico-raciais têm na redação?  Por que a imprensa ainda tem tanta dificuldade de reconhecer seu próprio racismo? Como o racismo é abordado nas redações? Os estereótipos e termos racistas ainda são utilizados nas matérias? 
 
Além disso, quais são as fontes que normalmente a imprensa tem costume de entrevistar? Os especialistas quase sempre são pessoas brancas. Muitas vezes pessoas negras são chamadas apenas quando os assuntos são relacionados à temática étnico-racial.
 
E às vezes nem mesmo diante dessas situações a fonte negra é chamada. Quer exemplos? Durante a cobertura da morte de George Floyd em 2020, sufocado com joelhos de um policial branco, nos Estados Unidos, muitas emissoras e jornais sequer congitaram conversar com especialistas negros e também ignoraram a importância da cobertura ser conduzida por jornalistas negros e negras. 

Além disso, é bom reforçar: especialistas negros e negras dervem ser fontes para diferentes assuntos. Ou seja, para economia, educação, política, saúde, justiça, entre outras.