Jornal Estado de Minas

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“Antônio Roberto, estou assustada. No último fim de semana estive em Ouro Preto. Meu filho e alguns amigos foram comemorar a formatura... O que está acontecendo com os adolescentes? Todos os colegas e o meu filho beberam o dia inteiro. Em BH, isso tem trazido muito atrito entre nós, além de outros comportamentos estranhos: irritabilidade, pouco interesse pelas coisas e uma certa revolta. Oriente-nos.”

Cris e Jorge, de Belo Horizonte

O período da adolescência, em geral, é turbulento.  É um momento de ruptura, de mudança interna na vida, cheio de dúvidas. É natural nessa passagem o aumento da insegurança, do medo diante do desconhecido. Esse medo pode levar o jovem a comportamentos estranhos para os pais que já tinham se acostumado com o filho-criança, sobre quem imaginava grande controle.





Na relação com o mundo podemos adotar um dos seguintes mecanismos. O primeiro é o da acomodação. Através dele nos submetemos às influências externas. Damos sempre “sim” ainda que contra nossa vontade. É o que as crianças aprendem por exigência dos pais (e faz sentido). Na primeira infância não sabemos lidar com a realidade e nem dispomos de meios para isso. É uma fase de aprendizado, onde temos papel secundário, se não obedecemos, não sobrevivemos. Quem nos dará alimentação, segurança, escola, roupa e moradia? Os pais escolhem o que vamos comer, onde iremos estar, quando deveremos dormir... é a fase do: “– O que o seu rei mandar?”  “– Faremos tudo!”.
 
 
 
Em um paralelo com a alimentação é como se engolíssemos inteiro tudo o que vem de fora, sem questionar, sem duvidar e sem mastigar. Engolimos inteiro o modo de vestir, o modo de falar, os valores transmitidos, a religião que escolheram para nós, os comportamentos sociais etc.. Há pessoas que permanecem nessa fase a vida toda. Suas relações são sempre marcadas pela postura de sobrevivência, de aceitar serem dominadas, de se sacrificarem pelos outros, de serem sempre boazinhas e obedientes.

O segundo mecanismo de lidar com a realidade é a revolta. É uma espécie de reação ao primeiro processo. Esse mecanismo predomina na adolescência, já que engolimos tudo o que obrigaram a comer agora é hora de vomitar. Ser contra. Contestar tudo. O modo de falar, a altura das músicas, a forma de se vestir, a posse do próprio corpo (tatuar-se, piercing) opor-se à caretice do sistema etc.. À procura da própria identidade e autonomia, ao jovem que ainda não dispõe da bagagem cognitiva e emocional para escolher só resta ser contra o que lhe ensinaram. Os hábitos antissociais e exagerados aparecem nessa fase (pichações, gangs). Isso coincide com mudanças físicas e hormonais. A criança virando adulto e procurando os próprios valores. É comum inverter os horários de dormir, de se alimentar. Por mais crítico e conflitivo que seja esse momento, como passagem, ele é importante. A paciência dos pais é fundamental. E se os pais tentarem, pela força, retorná-los à posição de obediência cega da infância, vai piorar tudo. Podem, inclusive, com o uso da pressão e da força, ajudá-los a cristalizar essa postura reativa para o resto da vida.





Há pessoas que permanecem assim e suas relações serão assinaladas pelo autoritarismo, dominação, controle, crueldade e ciúme. Emprestar uma boa dose de compreensão com esse momento caótico do filho é uma forma segura dos pais se aproximarem, aumentando assim o vínculo amoroso e tendo a possibilidade de dialogarem e se influenciarem. Outro papel importante dos pais é dar consciência aos filhos de que, por mais complicada que seja essa fase, trata-se de uma travessia que os levaria a momentos futuros de mais equilíbrio. O filho não é isso, ele está passando por isso.

O terceiro mecanismo diante da realidade é a adaptação. É quando a pessoa descobre que realmente ela é dona da própria vida, que ela é responsável pelas suas escolhas e que suas decisões serão pautadas pela sua experiência e que terão consequências. Não se trata de agir de determinada forma porque meus pais, a sociedade e forças externas querem e nem agir, por reação, contra o que eles querem, mas de acordo com o que a experiência me diz ser melhor pra mim. Por natureza, as pessoas tendem a procurar o próprio bem e a própria felicidade. A submissão e a revolta é que nos levam ao desvio desse caminho. Em ambas, estamos escravizados à determinação do outro, somos dirigidos de fora.

A submissão é uma paz falsificada. Mais cedo ou mais tarde ela vira revolta, que é uma liberdade falsificada. A verdadeira autonomia vem da consciência de a autoridade, vem da realidade, dos fatos, não de alguém. Ninguém nasce, vive ou morre no lugar do outro.

A adolescência não é um ponto, é um processo compreendê-la, atravessá-la, elaborá-la é o que se espera dos pais e dos jovens; afinal de contas, todo mundo caminha para a felicidade, nosso maior desejo.

audima