Jornal Estado de Minas

COLUNA

A nova família: o que mudou

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis



“A família tem mudado muito. Fale dessa nova família, vejo 
muita coisa errada”

Rose, de Betim

Muito se fala da família e quase sempre com pessimismo. A família mudou? Sim e muito. Para melhor ou pior? Eu diria, para uma nova forma.





Havemos e devemos nos render às mudanças, ficar preso no como deveria ser como era antigamente ou na minha época não traz solução alguma. E quem disse que antes era o correto? A cada resistência às mudanças mais doentes tornamos nossa família e nós mesmos. E quem disse que a tal inversão de valores está errada? Novos valores, novas posturas, novos costumes!
 
Já não seria a hora de pararmos de reclamar e aproveitar para mudar e enriquecer um pouco com os jovens naquilo de novo que eles nos trazem?

Tenho percebido que o medo da mudança é que nos faz abrirmos exceções constantes em busca da permanência do velho em detrimento do novo. A sedução dos pais na conquista dos filhos evitando as frustrações e buscando o amor dos mesmos a qualquer preço, lutando contra o real, penso eu, é que tem acarretado tantos conflitos.

A nova família é a da conduta do companheirismo, da participação, da escuta, o pai maior e dono da verdade já caiu em desuso. As posturas pedagógicas já envelheceram, as escolas massificantes deram errado, já é hora de a pedagogia do empreendedorismo, da busca pelo potencial, pelo aproveitamento da capacidade individual. Com realidade digital não podemos esquecer o caminho do gênio Steve Jobs! Após esse exemplo, temos que nos perguntar: O que quer o ser humano? Para onde caminha sua família e seus valores?.

Segundo Jorge Forbes, "nesse movimento, a família ganha novo status. Em vez de ser o lugar onde se ganham coisas – semanadas, carros, presentes os mais diversos–, o que se ganha mesmo, a maior herança, é a castração, um dos nomes do real”. Em algum lugar, Lacan chegou a dizer que não adianta ninguém trocar de família, especialmente de pais, imaginando que terá seus problemas resolvidos. Eles reapareceriam iguaizinhos se isso fosse possível.





Família é daquilo que todo mundo se queixa – boa definição – e se o fazemos é porque ela não oferece o que dela, especialmente dela, gostaríamos de receber: o nome do desejo. Isso fica mais evidente em um mundo despadronizado. Insisto, seja ela como for constituída: por cama, ou proveta; hétero ou homossexual; parceira ou monoparental, família é a instituição humana que tem a capacidade de fazer com que nos confrontemos ao real da nossa condição: a falta de uma palavra já pronta, prêt-à-porter, que nomeie o desejo de cada um.

Se um dia a psicanálise promoveu o diálogo compreensivo e humanizador, as mudanças dos tempos nos exigem um esforço a mais no sentido de uma renovação. Pai é quem tem um sentimento sagrado por um filho. Sagrado vem de sacrifício. Pai é quem tem um amor radical – sem explicação – e que pode morrer por um filho.

É esse ponto de amor radical que é detectado pelo filho e sobre o qual ele se apoia na invenção singular de sua vida. Um filho sabe que ali ele conta, que dali ele pode contar sua vida, dar-se à existência. Não nos surpreendamos que pais e filhos possam trabalhar melhor juntos agora que no passado. Fora do eixo imaginário da dominação, pais e filhos convivem bem como nunca nesse amor radical que possibilita expressões distintas, diversas e divertidas, com a marca de uma mesma família. Não faltam exemplos: Coppolas, Veríssimos, Holandas, Douglas, Cravos e, seguramente, muitos mais.

Não há pois que se discutir ou duvidar de que a adaptação ao real seja a saída para todos estes conflitos globais que acometem as pessoas e suas famílias. Trocar a crítica pela busca do conhecimento, pela pergunta e pela compreensão e afeto. 

Abandonar o discurso arcaico de que o mundo está perdido é uma nova maneira de se situar e se inserir neste real de mudanças tão dolorosas para muitos, pois só assim nos tornaremos capazes de ocupar um lugar que faz a diferença.




audima