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Fragilidade humana

'Não há pessoas fortes e pessoas fracas. Forte é quem lida bem com as quedas, erros, limites. Fraco é quem nega suas relatividades e quer ser absoluto'


postado em 29/03/2020 04:00

(foto: quinho)
(foto: quinho)

“Estou muito deprimido e angustiado ultimamente. Eu que sempre me considerei uma pessoa forte, dura, que nunca demonstra fraqueza, estou me sentindo fragilizado. Explique-me essa situação.” 

 

Martim, de Belo Horizonte 

 

Uma amiga me contou que presenciou um fato interessante há alguns dias. Ela e um amigo corriam juntos. Ele, com muito esforço, mantinha um ritmo firme e acelerado. Depois de algum tempo, exausto, ele parou e disse à minha amiga: “Como é difícil fazer parecer fácil”. A característica fundamental da nossa natureza é que somos seres limitados, portadores de forças e franquezas, facilidades e dificuldades, capacidades e incapacidades.

 

Ensinaram-nos que devemos ser fortes em qualquer circunstância, que nunca devemos deixar a peteca cair e sempre devemos dar conta, independentemente das situações. Isso gerou em nós um esforço sobre-humano de parecer que somos infalíveis, que somos onipotentes. O que é real, porém, sempre vem à tona e um dia a casa cai. Os conceitos de força e fraqueza não podem ser entendidos de maneira absoluta.

 

Todas as pessoas são frágeis por natureza. Tudo o que é mortal é frágil. Fortes são aqueles que aceitam e administram essa fragilidade. Fracos são os que, não aceitando seus limites, abusam do seu potencial e pagam caro por isso. A esse comportamento dou o nome de postura do herói. Bancar o herói na vida é querer ser mais do que se é, é carregar o mundo nas costas, é não saber jogar a toalha de vez em quando, é ser incapaz de dizer “não dou conta”, é querer ser forte o tempo todo, é esconder os sentimentos negativos, é nunca dizer não, é se matar para parecer fácil o difícil.

 

Todo herói se torna vítima, mais cedo ou mais tarde. É o que aconteceu com o leitor acima. Brincando de ser Deus, fingiu não ser afetado pela realidade e, agora, estranha a cobrança que sua humanidade lhe faz em forma de angústia e depressão. Trata-se, até mesmo, de uma lei física: a toda ação corresponde uma reação igual e contrária. A todo o excesso corresponde um recesso. A toda tensão excessiva corresponde uma depressão.

 

O fenômeno de estresse está situado nessa estrutura. E, para agravar, o herói, julgando-se maior e superior aos outros, tem muita dificuldade de pedir ajuda. Ele, normalmente, tem muita facilidade para ajudar outras pessoas, para resolver os problemas dos outros, para ensinar, orientar e proteger, e tem enorme dificuldade de ser ajudado, de aprender, de ser orientado ou de ser protegido. Para ele, pedir ajuda é reconhecer uma fraqueza que nele jamais é admitida.

 

Não há pessoas fortes e pessoas fracas. Forte é quem lida bem com as quedas, erros, limites. Fraco é quem nega suas relatividades e quer ser absoluto. Forte é quem se enverga, mas não se quebra, à semelhança daquela plantinha tenra que, durante a tempestade, se curva totalmente no solo, mas, depois da chuva, volta a seu estado anterior.

 

Estamos na vida para aprender a lidar com os fatos positivos e negativos que nos circundam durante nossa trajetória ou para provar, para nós e para os outros, que jamais cairemos? Os americanos costumam classificar as pessoas em “ganhadores” e “perdedores”. Enquanto assim o fazem, se esquecem de outra classificação mais em consonância com a realidade humana: pessoas felizes e pessoas infelizes.

 

A vida é como um rio. Lutar contra a corrente não é sábio. Agarrar-se às margens também não é bom. Deixar-se levar, cooperando ativamente com a corrente e aceitando as dificuldades, é o máximo de exercício de flexibilidade para chegar ao oceano. Viver humanamente exige humildade no verdadeiro sentido etimológico da palavra. Humildade vem da palavra latina húmus, que significa terra, chão. Pôr os pés no chão e aceitar que não somos deuses e, por isso mesmo, caímos, perdemos, hesitamos e sofremos. Em compensação, podemos sempre começar de novo.

 

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