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MENTIRAS

A maioria dos casamentos fracassa porque levamos para a vida a dois, e posteriormente com os filhos, as leis que regem as relações sociais, onde há muitos jogos, muitas disputas e muita simulação


postado em 23/02/2020 04:00

“Meu marido mente muito para mim. Isso dá uma sensação de insegurança e raiva. Gostaria que você falasse sobre a mentira no relacionamento.”

Mara, de Belo Horizonte


Por que as pessoas mentem? Algumas assim o fazem por um sentimento de inferioridade. Querem se engrandecer diante das outras e dizem coisas fora da realidade a respeito de si próprias. É o caso, por exemplo, de quem fala de grandes posses, carros, casas, quando de fato não é verdade. Falam mais daquilo que gostariam de ser, mais do seu desejo.

Nesse sentido, as pessoas mentem a respeito da própria idade, das realizações, da própria profissão, do lugar onde moram, da sua importância social etc. Essa mentira prejudica mais ao que mente do que à outra pessoa, porque essa conduta reforça uma autoestima baixa, uma falta de aceitação das próprias condições, impedindo o próprio crescimento. Aceitar as limitações humanas, seja em qualquer área, é a base do nosso desenvolvimento. Em vez de, nesse caso, batalharmos para alcançar nossos desejos, nos acomodamos e gastamos energia para preservar a nossa imagem diante dos outros. Atrasamos nossa caminhada e falamos para as outras que já chegamos lá. Outras pessoas mentem por medo. Medo de serem controladas, medo de perder a própria liberdade, medo de ser criticadas ou hostilizadas. Quando isso ocorre, com frequência, em um relacionamento, significa que o clima da relação é opressivo.

Quando um relacionamento respeita as diferenças e os desejos de cada um, ou seja, quando a individualidade é preservada, mesmo vivendo em comum, não há necessidade dessas mentiras. É o caso, por exemplo, do marido que após o trabalho sai com os amigos para um barzinho e tem medo de contar a verdade para a esposa porque ela não vai aceitar o seu direito de sair com os amigos. Essa mentira é fruto do ambiente de ciúme e de controle no relacionamento. É claro que essa mentira não vai resolver o verdadeiro problema do relacionamento, que é a incapacidade de equilibrar a vida em comum com o fortalecimento do indivíduo.

As mentiras, nesse caso, vão apenas protelar a resolução do verdadeiro problema e mais cedo ou mais tarde o problema irá se agravar. O clima de insegurança e de ciúme aumentará e vai eclodir em atitudes de brigas, hostilidades e indiferenças. O grande desafio da relação amorosa, em um casamento, por exemplo, é ter uma vida em comum fortalecida, com presença, objetivos em comum, diálogo, divertimentos, e preservar, ao mesmo tempo, espaço para o crescimento e liberdade de cada um.

Vivemos em uma sociedade altamente competitiva e, por isso, devemos distinguir os vários níveis de relacionamentos para ajustar nosso grau de transparência em cada um deles. Temos desde relações formais até relações íntimas. As relações sociais, incluindo o trabalho, são de natureza diferente das relações de amor e de amizade. Nas relações íntimas, quanto mais você for você mesmo, maior a possibilidade da construção de uma vivência folgada, espontânea, único campo capaz de fazer florescer o amor e a alegria.

O que todos nós procuramos na intimidade é o relaxamento. É um espaço onde depomos as armas, não precisamos nos defender e somos aceitos tal qual nós somos e não pela imagem que o outro vai ter de nós. A relação social é periférica. A relação íntima é profunda. A maioria dos casamentos fracassa porque levamos para a vida a dois, e posteriormente com os filhos, as leis que regem as relações sociais, onde há muitos jogos, muitas disputas e muita simulação.

As leis do amor são bem diferentes, primam pela verdade, bondade, cooperação e respeito. É importante, por outro lado, em qualquer relacionamento, fazer uma diferença entre “falar a verdade” e “ser verdadeiro”. Ser verdadeiro significa que temos de levar em conta a situação e as consequências das nossas verdades. Muitas pessoas, em nome de sempre falar a verdade, maltratam os outros, criam situações destrutivas nos relacionamentos. Ao falarmos a verdade, temos de considerar o que isso significará para a outra pessoa, ou seja, a verdade ter de se situar na realidade. Quando, onde, com quem e de que maneira falarei minha verdade. Sem afeto, a verdade pode destruir o outro. A leitora que envia a pergunta deve diagnosticar as causas das mentiras do marido e, em um diálogo franco, repactuar com ele uma forma de melhorar o relacionamento como um todo. A mentira não é causa de nada. É consequência. Procurar as causas e atacá-las é a saída.

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