“Antônio Roberto, sou a única negra da minha turma na faculdade. Por isso, sinto a responsabilidade de ser a melhor aluna ou apresentar o melhor trabalho. No fundo, tenho medo de ser discriminada. É muito difícil olhar em volta e não ver pessoas da minha raça. Poderia me ajudar?” - Maria Alice, 22 anos, de Belo Horizonte
Todo preconceito é um erro de visão. É uma distorção visual com relação ao mundo. Não existe ninguém igual a outro. Cada um de nós é único e diferente das demais pessoas.
Esse é um lado da questão. Existe outro. Embora desiguais, somos profundamente semelhantes aos outros. Pelo fato de sermos gente e pertencer à família humana, no essencial nos assemelhamos. O branco não é o contrário do preto, assim como mulher não é o contrário do homem. As pequenas diferenças entre os seres não nos dão o direito de colocá-los em campos opostos, como inimigos e competidores.
O preconceito é fruto de focarmos exageradamente as diferenças, esquecendo-nos da semelhança humana que nos faz partícipes da mesma festa da vida. Antes que negro, que mulher, que homossexual, que rico, que jovem, que mulçumano, somos gente.
Primeiro, enfatizamos o secundário, o periférico, em detrimento do essencial. Por que enxergar a Maria Alice e defini-la como “preta” se, no essencial, ela tem um corpo com a mesma beleza e funções de qualquer ser humano? Outro erro na maneira de pensar preconceituosamente é a generalização. Situamos o outro dentro de uma classe ou categoria e perdemos contato com aquela pessoa específica. Assim não nos relacionamos com Maria, Vicente, Jacó e Pedro, mas com o velho, o judeu, o estrangeiro, o pobre ou o rico. E, ao generalizar, atribuímos àquelas pessoas todas as características que fantasiamos a respeito de sua categoria: “Todos os homens são iguais”, “todos os velhos são bons”, “os brasileiros são criativos”, “os mulçumanos são terroristas”, “os políticos são desonestos”.
A discriminação de uma raça, da mulher, do homossexual ou qualquer outra serve a um propósito: compensar o sentimento de inferioridade daquele que discrimina. Para nos sentirmos superiores, elegemos no outro uma diferença que, na nossa maneira míope de enxergar, o coloca em situação inferior a nós.
Elevado ao extremo, nosso ímpeto dominador e arrogante face aos “inferiores” nos conduz à hostilidade, e até a tentativa de destruir o outro na sua diferença secundária.
Historicamente, temos um exemplo disso nas suas piores consequências. Hittler, do alto de sua inferioridade, exterminou milhões de judeus. Todo preconceito é insano e cruel e é a negação do amor na relação com o outro.
Sonhamos com um mundo padronizado, onde todas as pessoas devam ser feitas à nossa imagem e semelhança. Tememos o diferente, o estranho, o esquisito, o “anormal”. E como o preconceito é cultural, até mesmo as pessoas objeto da discriminação também internalizaram o preconceito. A leitora acima é preconceituosa com relação ao negro. Ela confessa a sua sensação de inferioridade, a sua autoestima enfraquecida. Se assim não fosse, por que compensar sua cor tentando ser a melhor aluna, apresentar o trabalho mais brilhante? Ela se sente isolada, separada dos demais colegas e sente falta de outras pessoas da sua raça negra. Ela não consegue consentir que todos da sua sala pertencem à mesma raça humana.
Contemplar a semelhança humana, admirando as diferenças individuais é a única forma de nos aproximarmos uns dos outros e de nos encaminhar para o amor, o afeto e o respeito. Preconceito é uma doença emocional provocada por uma forma burra de ver o outro.