(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas BRASIL S/A

A democracia brasileira e a economia estão em franca regressão agora

Tudo pelo poder: Exército e Congresso laçados, STF desafiado, saúde na UTI, lobbies com carta branca


06/06/2021 04:00 - atualizado 06/06/2021 07:21

Bolsonaro passou os últimos dois anos atiçando a sua horda de extrema-direita contra o Congresso e o STF e vai promover gastança fiscal para tentar seduzir o eleitor(foto: Evaristo Sá/AFP)
Bolsonaro passou os últimos dois anos atiçando a sua horda de extrema-direita contra o Congresso e o STF e vai promover gastança fiscal para tentar seduzir o eleitor (foto: Evaristo Sá/AFP)

Não há nada normal no país se tentam tornar narrativa fictícia em realidade e muitos acreditam. Ou fingem acreditar pela velha razão pecuniária ou ideológica, indiferentes às mortes na pandemia, que se combate com vacinas que esse governo comprou tardiamente, e à retomada econômica que não reduz desemprego nem ativa o progresso.

Nessa “pós-verdade” brasileira, expor a fraude do tal “tratamento precoce” contra o SARS-CoV-2, defendido por uma médica na Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, seria “covardia”, como opinou o presidente Jair Bolsonaro. Para ele e o chamado mercado, vai tudo nos trinques na economia porque a bolsa está em ebulição e a queda do dólar vis-à-vis o real logo vai franquear as férias em Miami.

Os fatos colidem com a narrativa disseminada pelo governo. Até o código disciplinar do Exército, que veda a presença de oficiais em atos políticos, foi ignorado com a decisão do comandante da força, general Paulo Sérgio Nogueira, de livrar a barra do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, também general, para agradar o presidente.

Pazuello participou do passeio de moto que reuniu bolsonaristas no Rio, dois domingos atrás, e discursou no carro de som em que estava Bolsonaro. Adicionou ao rol de polêmicas, o grosso das quais é alvo de apuração da CPI do Senado, a do general da ativa palanqueiro, um ato repudiado pelas Forças Armadas desde que um cabo da Marinha pôs fogo numa assembleia de suboficiais na véspera do golpe de 1964.

O que quer Bolsonaro? A questão incomoda aqui e no exterior. “The Economist”, referência do liberalismo político e do neoliberalismo financeiro global, tenta decifrá-lo em dez páginas nesta semana. A sua conclusão: “Os políticos precisam fazer as reformas econômicas atrasadas. Os tribunais devem reprimir a corrupção. As empresas, ONGs e brasileiros comuns devem protestar em favor da Amazônia e da Constituição. Mas será difícil mudar o curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A prioridade mais urgente é afastá-lo”.

É o oposto do que ele almeja. Quer reeleger-se seja o que tiver de fazer, como humilhar a corporação da qual foi forçado a se reformar quando era tenente e gastar – alô centrão! Neste propósito, não se avexou em ser negacionista no combate à pandemia, entendida por ele como obstáculo a seu projeto apesar das mortes – “e daí?”, zombou meses atrás –, passou os últimos dois anos atiçando a sua horda de extrema-direita contra o Congresso e o STF e vai promover gastança fiscal que julgar necessária para tentar seduzir o eleitor.

Lava-Jato legou Bolsonaro


E o Brasil? Ora, está acima de todos, conforme o bordão do capitão insubordinado – “mau militar”, como o definiu o general-presidente Ernesto Geisel. Ainda assim se elegeu como a resposta malcriada dos eleitores indignados com o PT e os políticos em geral em 2018. Foi este o grande legado da Lava-Jato: solapar o que sempre foi frágil.
agora? Com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, silentes quanto aos riscos institucionais abertos pela temerária decisão do comando do Exército de abonar Pazuello, sobram o STF, o único dos três poderes constitucionais a barrar os ímpetos autoritários de Bolsonaro quando se fez necessário, o clima de mal-estar nas Forças Armadas (cientes de que a anarquia já agita as polícias nos estados) e a chamada “voz rouca” das ruas.

Os protestos do último dia 29 contra Bolsonaro foram expressivos como jamais os bolsonaristas conseguiram. E outro está marcado para o próximo dia 19, validado pelo fortíssimo panelaço que recepcionou a fala de Bolsonaro na quarta-feira em rede nacional de TV.

Recibo de ignorância social


Não é sábio ignorar revoltas populares espontâneas, sobretudo em tempo de redes sociais. O governo do Chile não percebeu e teve de engolir uma constituinte formada por maioria de esquerda. Colômbia vive um estado de insurreição popular como sequela de uma tentativa de reforma tributária mal formulada. Nos EUA, houve Trump, que fracassou, e tem Biden buscando reformar a ortodoxia do mercado.

No fim, quando a maioria desprezada se vê como peão de interesses que não lhe confortam, e a maioria no Brasil é de gente sofrida, maltratada pelos governantes e “invisível” aos tecnocratas (como o ministro Paulo Guedes os qualificou, surpreendido pelo número de trabalhadores informais sem renda na pandemia), explosão popular é questão de tempo. Supor que um auxílio emergencial encorpado fará diferença ao governante é passar recibo de ignorância social.

E assim chegamos ao crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto, PIB, no 1º trimestre, em relação ao 4º trimestre de 2020. Foi mais que o previsto, mas ainda não indicativo de otimismo, se o naco do consumo das famílias neste resultado recuou na mesma comparação. E como crescer, com desemprego recorde, de 14,7% até março, ou quase 30%, incluindo desalentados e o emprego precário?

O Brasil dos sem noção

A verdade é que o crescimento trimestral foi movido mais pela reposição de estoques que pela exportação de commodities e sem este resultado a variação intertrimestres teria sido negativa. E sem a injeção fiscal de quase 8% do PIB no ano passado para compensar a parada da economia pela pandemia, metade sob a forma de transferência direta de renda, a economia continuaria prostrada.

Essa é outra narrativa que incomoda os que só veem maldade na ação do Estado e temem que um Bolsonaro ensandecido com a reeleição una os pontos e conclua que a orientação liberalizante de Guedes, com o apoio do mercado financeiro, seja uma fria. Gasto fiscal é válido, mas não para devaneios populistas eleitorais nem para projetos de investimento que só fazem a fortuna de vigaristas.

É o caso do projeto de privatização da Eletrobras que a Câmara aprovou inserindo corpos estranhos à matéria original em atenção a lobbies de empreiteiros e de investidores minoritários da estatal, representando um ônus descabido aos consumidores em geral. O texto está agora no Senado. A decisão racional é deixá-lo caducar.

Governo fraco, dependente de maioria parlamentar aliciada graças à omissão dos órgãos de controle e à hipocrisia de liberais de araque do mercado, e com propensão a virar a mesa, leva ao que se assiste – o risco de uma crise institucional. É o Brasil dos sem noção.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)