Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

O meu bate-papo com o imortal Botero


Gostei de Fernando Botero desde que vi a interpretação de Mona Lisa assinada por ele, supergorda, mas absolutamente identificável. Por sorte, encontrei um livro sobre sua obra, a respeito do estilo que ficou conhecido como boterismo. Morto na última sexta-feira, o colombiano rodou o mundo com sua arte.





 

Botero se inspirou na vida de seu país – do romantismo de temas caseiros às crises provocadas pelas drogas, passando pela guerrilha e a violência.


Por uma dessas coincidências da vida, eu estava em Paris quando foi montada uma exposição com esculturas do artista, que seguiam o mesmo tema das telas: figuras gordas e totalmente únicas no mundo das artes. Como meu hotel ficava perto da avenida onde elas foram colocadas, passava por lá todas as manhãs, antes de sair para os programas diários.

 

Até que um dia, sorte das sortes, topei com Botero olhando a exposição. Xereta que sou, não tive dúvida: fui abordá-lo e ele foi supergentil. Falava em espanhol, o que facilitou a conversa da brasileira intrometida com o artista famoso.





 

Verdadeiro, Botero contou que só começou a fazer sucesso depois que suas obras foram descobertas por um museu alemão de Nova York, por volta dos anos 1970. Prático, acreditava que suas esculturas, cujos preços seguiam as linhas de seu sucesso, não venderiam facilmente em Paris.

 

Estava mais do que certo: como fiquei vários dias na cidade, acompanhei o processo da exposição e, até onde sei, nada foi vendido na rua – mas posteriormente as esculturas passaram para uma galeria.


De Paris fui para Roma. Subindo uma daquelas ruas que vão dar na Via Veneto, trombei com uma jovem artista que reproduzia as telas de Botero, para vender a quem as quisesse. Quis, comprei uma banhista olhando-se no espelho por cerca de US$200 e a reprodução está... no meu banheiro.


Quando levei a tela para emoldurar, a dona da galeria me viu chegando com a pintura na mão e veio correndo, certa de que eu havia comprado um Botero original. Quem me dera ter tantos dólares para gastar no quadro de artista mundialmente famoso. Aliás, o que o artista tem muito é copista.


Falando nisso, uma de minhas irmãs, que já se foi, ex-aluna de Guignard, não ficou artista famosa porque não quis se dedicar aos pincéis – reproduziu alguns quadros a pedido de amigos, tão originais quanto os verdadeiros.


Agora que Botero morreu, vou procurar a foto que tirei com ele ao lado de uma de suas esculturas, em Paris. Vai dar trabalho, mas vale a pena.