Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Não confunda ansiedade infantil com birra


 
A ansiedade infantil, muitas vezes, pode ser confundida com birra ou comportamento típico de crianças mimadas. Porém, há alguns sintomas que podem caracterizar esse transtorno, caso apareçam em conjunto.




 
De acordo com a psicóloga paulista Sarah Lopes, possivelmente sofrem de ansiedade infantil as crianças que têm medo, roem as unhas com frequência, sentem vergonha, são impacientes, temem dormir sozinhas, fazem xixi na cama e apresentam fobia escolar, além de sempre quererem estar perto dos pais.
 
Todos esses sintomas podem variar de acordo com o gênero e a idade, mas a ansiedade infantil geralmente afeta os pequenos de 6 a 8 anos, fase em que eles começam a apresentar autonomia.
O transtorno prejudica o desenvolvimento, fazendo com que tal comportamento seja levado para a vida adulta. A rotina escolar é afetada e algumas crianças podem até mesmo perder conteúdos importantes.
 
No âmbito pessoal, pode haver limitação e o desenvolvimento do conceito negativo dos pequenos sobre si mesmos, dificultando a sociabilidade.




 
A especialista adverte que o uso frequente da tecnologia é um dos principais fatores para o desenvolvimento da doença. Afinal, smartphones e tablets são os “brinquedos” preferidos das crianças, e é cada vez mais comum encontrá-las entretidas com os aparelhos, tanto no ambiente domiciliar como também nas escolas e lugares públicos.
 
Dessa forma, elas se acostumam muito facilmente com o imediatismo e têm cada vez menos paciência para lidar com tudo que demande um pouco mais de tempo e espera.
 
“Atualmente, percebemos pressa nas coisas, nas pessoas e na tecnologia. Com as crianças não é diferente. Entre os brinquedos, ocorre o descarte de objetos que facilmente viram obsoletos e perdem espaço para aparelhos tecnológicos. Hoje em dia, falta mais contemplação, parar e estar atento ao que se faz no momento presente. Ser presença”, afirma Sarah Lopes.
 
A psicóloga alerta que a percepção dos pais é fundamental para o tratamento da ansiedade. Eles devem ficar atentos aos sintomas e perceber o que é real. Ou seja, caso as crianças não queiram ir à escola, a primeira ação é verificar se existe algo lá que esteja impedindo o desenvolvimento do filho.




“Pode ser a dificuldade de interagir com as outras crianças, dificuldade com o currículo escolar ou até mesmo bullying. Um único quadro, geralmente, não define a ansiedade infantil, são necessários alguns comportamentos para o diagnóstico preciso”, ressalta Sarah.
 
Os próprios pais podem ser a causa da ansiedade dos filhos. “Não se diz que é hereditário, mas os pais transmitem esse comportamento. De acordo com a terapia cognitiva comportamental, somos frutos do meio. Assim, se os pais apresentam ansiedade, os filhos vão entender que o mundo funciona dessa forma. Os pais são os primeiros transmissores de como devemos ver, ouvir e agir diante das situações”, explica.
 
O transtorno pode ser tratado de acordo com o grau de ansiedade e a idade da criança. A família também deve ser avaliada e, se for o caso, tratada. A terapia cognitiva comportamental trabalha de forma positiva com os pequenos, fazendo com que percebam aos poucos o que conseguem fazer e o quanto as ideias negativas atrapalham seu desenvolvimento.