Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Mitos e verdades sobre a fertilidade


Pessoa de minha família tentou todas as técnicas existentes para ter um filho. Não conseguiu, adotou uma criança. Junho é o mês da fertilidade. Esse conceito envolve o casal, portanto não há como garantir se uma pessoa sozinha é fértil ou não. Mas, no caso das mulheres, é possível avaliar a reserva ovariana, o principal indicador quantitativo da fertilidade por meio da análise de três fatores:

Hormônio folículo estimulante (FSH), responsável por estimular o crescimento dos folículos que irão se desenvolver em cada ciclo menstrual.





Hormônio antimülleriano (AMH), produzido pelas células ovarianas no início do seu desenvolvimento para regular o crescimento e desenvolvimento dos folículos durante a vida reprodutiva; quanto maior o AMH, mais óvulos a mulher pode ter.

Contagem de folículos antrais (CFA), exame de ultrassom realizado durante o ciclo menstrual para avaliar o número de folículos em crescimento presente nos ovários naquele mês.

Vale reforçar que esses fatores indicam apenas a reserva de óvulos e o funcionamento do ciclo menstrual. A contagem inicial de folículos, mesmo alta, não garante que resultará em óvulos maduros após o tratamento, que esses óvulos serão fecundados e que os fecundados resultarão em embriões viáveis.

A análise do hormônio antimülleriano, realizada a partir de um simples exame de sangue, é importante indicativo do prognóstico quantitativo de fertilidade da mulher e o primeiro passo em direção ao planejamento reprodutivo ou congelamento de óvulos. A seguir, abordamos dúvidas sobre fertilidade:

A baixa dosagem de hormônio antimülleriano significa que a mulher não pode ter filhos naturalmente?

Não necessariamente. Ter filhos depende da fertilidade de um casal e não apenas da mulher. A baixa dosagem de hormônio antimülleriano indica que ela tem baixa reserva de óvulos, mas não avalia a qualidade deles. A qualidade dos óvulos depende de fatores genéticos e da idade da mulher, por exemplo. Se a qualidade for boa, mesmo com poucos óvulos há chances de engravidar naturalmente. A alta dosagem de hormônio antimülleriano e boa qualidade oocitária não garantem a gravidez natural de um casal heteronormativo se o homem apresentar anormalidades em seu espermograma.





A quantidade e qualidade de óvulos caem drasticamente após os 30 anos?

Verdade. Por volta da 16ª a 20ª semana de gestação, o feto feminino possui sua reserva máxima de óvulos da vida, cerca de 7 milhões, mas esse número começa a cair antes mesmo do nascimento. Até o momento da menarca (primeira menstruação), estima-se que essa quantidade já caiu para 300 a 500 mil e, a cada menstruação, perdemos mais até atingirmos a menopausa.

Como já nascemos com todos os óvulos, eles envelhecem com a gente. Por volta dos 35 anos, a qualidade de óvulos começa a ser alterada de forma mais significativa, o que impacta as chances de eles serem fecundados ou gerarem embriões viáveis. Isso caracteriza a queda da fertilidade. Aos 30 anos, a probabilidade de a mulher saudável engravidar é de pouco mais de 20% a cada mês. Já por volta dos 40, as chances caem para 5% ao mês.

Não há como manter a qualidade dos óvulos com o avanço da idade.

Mito. Existem procedimentos desenvolvidos para diminuir o impacto da idade na qualidade dos óvulos e no potencial de fertilidade da mulher. Eles são altamente indicados para mulheres que não querem se preocupar com a constituição de uma família antes dos 35 anos ou para aquelas que decidem adiar a gravidez.





O congelamento de óvulos permite a retirada de parte dos óvulos dos ovários para utilizá-los posteriormente, quando desejado, por meio da fertilização in vitro. O procedimento funciona como “pausa” no envelhecimento dos óvulos, que mantêm sua qualidade compatível com a idade de retirada por meio da criopreservação e não com a idade em que o óvulo será utilizado.

Se a paciente congelou óvulos com 32 anos e procura o serviço para engravidar aos 40, seus óvulos terão a mesma chance de ser fecundados que o de uma mulher de 32 anos e não de 40. É como se ela ganhasse oito anos de “crédito” em seu relógio biológico.

A idade ideal para realizar o congelamento de óvulos é até os 35 anos

Parcialmente verdade. A maior parte dos especialistas recomenda que o procedimento seja realizado o quanto antes, de preferência até os 35 anos. Quanto antes o procedimento for realizado, maior a probabilidade de sucesso em termos de qualidade e quantidade dos óvulos. Entretanto, isso não quer dizer que haja limite de idade para o congelamento. A partir dos 40 anos o congelamento pode não apresentar mais uma boa relação de risco benefício. Procedimentos como a ovodoação podem ser mais indicados.