Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Casal saudável discorda, pensa diferente e briga

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De tempos em tempos, me deparo com algum casal que se gaba de nunca entrar em atrito. “Acredita que nunca brigamos? ”, me perguntou, certo dia, um deles. Estão juntos há 10 anos. Imagine viver ao lado de alguém durante tanto tempo e conseguir ficar sem nem sequer uma discussão pesada, um “arranca rabo”, um conflito?

Fico tentando entender o que eles chamam de briga. Definitivamente, não deve ser o mesmo que eu. Ou seja, acho falsa a afirmação de que é possível um relacionamento em que haja concordância em TUDO. É possível e saudável parar de brigar com o parceiro porque ele deixa a toalha de banho no chão, ou com a parceira quando ela demora mais que o razoável para se arrumar quando o casal está atrasado para a festa.





Um pouco de paciência não faz mal a ninguém, o mesmo podemos dizer do respeito. É preciso, antes de qualquer coisa, perceber quando há desrespeito e quando há apenas negligência ou falta de tempo para fazer tudo conforme o desejado. Tanto a toalha quanto o atraso podem denunciar muita coisa. E conseguir distinguir qual a intenção atrás de cada ato é o xis da questão.

Conheci um casal que não brigava. Verdade. Após comemorar cinco anos desta união muito festejada, se separaram. Depois ela reconheceu que o que faltou para dar certo foi exatamente a briga, a discussão sobre as preferências de um e de outro, sobre os valores, crenças, posições políticas, defender posições contrárias às do outro. Tempos depois, os dois encontraram novos cônjuges, com quem estão casados e discutindo, felizes, há mais de 15 anos.

Para não entrar em conflito com a esposa, acreditando que dessa forma seria possível perpetuar o casamento, ele concordava com tudo o que vinha dela.

– Vamos viajar nas férias para a praia?

– Vamos.





– Prefiro o sofá azul, e você?

– Azul está ótimo.

–  Vou votar no fulano.

– Eu também.

– Vou trazer mamãe para morar com a gente.

– Isso, traga mesmo.

Penso que chegava a ser até monótono. É nos momentos de discussões e brigas que colocamos em prova nossa capacidade de ouvir e expor opiniões contrárias às nossas. É irreal acreditar que só há amor e identificação entre aqueles que pensam e agem da mesma maneira. Formar um casal não significa se ver espelhado no outro. Ser parceiro não quer dizer ser sempre cúmplice. É viver ao lado como par, e não “sobre” nem “sob”.

Quanto ao casal do início deste texto, aquele que me inspirou a escrever sobre a harmonia utópica, penso que um deles deve estar se subjugando, permitindo que o outro o domine a ponto de não lhe abrir espaço para expor suas opiniões.

Se somos capazes de mudar nossos pontos de vista com uma frequência absurda, como conseguir concordar e pensar sempre como o outro?.