Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Tenho muito orgulho do meu pai


Amanhã, a maioria das famílias estará reunida comemorando mais um Dia dos Pais. Infelizmente, o meu partiu há 12 anos. Fica a saudade.

Acredito que, como ocorre comigo, pessoas que também perderam pai ou mãe se lembram deles em datas comemorativas. É como um filme que passa rapidamente pela memória, com flashs dos momentos bons e dos ruins também, claro. Afinal, pai é humano, erra mesmo querendo acertar. Nós também erramos e em cada fase da vida entramos em conflito com nossos pais por um ou vários motivos, e isso gera atritos.





No meu caso, lembro-me dele com mais frequência. Primeiro por trabalhar no jornal, consequência de sua presença aqui. Para quem não sabe, meu pai era o Camilo Teixeira da Costa, formou-se em direito, atuou muitos anos no Ipsemg. Foi convidado pelo amigo Theódulo Pereira para trabalhar nos Diários Associados, mas o primeiro da família a entrar no grupo foi meu tio Gegê, Geraldo Teixeira da Costa.

Meu tio era jornalista brilhante, importante e com muita influência no meio político. Amigo pessoal de Assis Chateaubriand, foi convidado por ele para comandar a equipe de jornalistas de suas empresas em Minas.

Meu pai entrou como gerente financeiro, sempre atuou na administração do grupo, foi diretor-executivo por anos. Era boêmio, gostava de cantar seresta e sair com os amigos para beber. Por sinal, amigo não faltava a ele. Tinha muitos.

Entrei no jornal para “quebrar o galho” como secretária dele, aos 16 anos, recebendo mesada. Ficaria na parte da tarde, até acharem alguém para contratar. Meu pai não aceitava que parente trabalhasse junto dele, mas como eu não era funcionária, tudo bem.





Na verdade, penso que foi estratégia para ocupar mais o meu tempo, porque na época estava namorando um rapaz que ele não aprovava muito. Saí no lucro, porque após seis meses, o doutor Pedro Aguinaldo Fulgêncio decidiu assinar minha carteira, apesar de todos os protestos de pai. Deu no que deu. Estou aqui até hoje.

Pai tinha um objetivo como empresário: que todos os funcionários do grupo tivessem casa própria; ajudou quem quis concretizar esse sonho. Tinha o coração do tamanho do mundo, mas era enérgico e exigente no que dizia respeito ao trabalho. Isso fez com que todos o admirassem muito e se tornassem amigos.

Sempre que encontro alguém das antigas, a pessoa faz questão de lembrar o doutor Camilo, como era tratado, não em tom de distância, mas de carinho e gratidão. Sempre se lembram de casos vividos com ele.





Fico feliz em saber quantas pessoas ele ajudou. Tenho muito orgulho disso.

Em casa, era tranquilo, raramente brigava, mas quando ficava nervoso, coitado de quem estava perto. Tinha uma colega de escola que minha mãe havia proibido de andar com ela, mas descíamos juntas do Izabela Hendrix, porque morávamos próximas uma da outra. Certo dia, a aula terminou mais cedo e fui com ela na costureira, no Edifício Maletta. Naquela época, a gente não entrava no Maletta, não era lugar para moça direita. Mesmo assim fui lá. Perdemos a hora.

Quando cheguei em casa, o caos estava formado. Mãe ao telefone ligando para todo mundo, meu pai e meu irmão mais velho correndo hospitais, meus avós orando. Quando mãe me viu – ela sempre foi a brava lá de casa –, disse que iria “tratar disso”.

Fui dormir rapidamente, antes de meu pai chegar. Ele entrou no quarto, me pegou pelo braço e me levantou da cama me xingando toda. Disse para nunca mais repetir aquilo. Achei que fosse apanhar muito, mas não. Foi o alívio de ver que não havia acontecido nada comigo. Fiquei uma semana com a marca dos dedos dele no braço.

Foi ele quem me ensinou a nadar na piscina grande do Minas. Certa vez, levou todos nós ao Mineirão em um clássico do Cruzeiro e Atlético, para nunca mais. Minha irmã e eu éramos muito novas e não o deixamos assistir ao jogo. Toda hora pedíamos alguma coisa. Teve paciência, acho que ficou observando nossa reação naquele local enorme, vendo o espetáculo pela primeira vez. Não me esqueço de sua risada alegre.

Feliz Dia dos Pais a todos.