Jornal Estado de Minas

DENÚNCIA

Preconceito? Leitora relata indignação durante a doação de sangue

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Em 14 de junho, falei aqui nesta coluna da importância e do ato de amor ao próximo que é doar sangue. Esta semana, recebi uma mensagem de uma leitora que acho de grande importância divulgar, porque pode servir de alerta para o pessoal do banco de sangue, que talvez precise rever algumas de suas regras. Claro que nem todos os casos se enquadram neste relato da leitora, pois conheço uma doadora que já passou pela mesma situação que ela – ou seja, divorciada e que teve um relacionamento casual com preservativo – e pôde seguir com a doação. Vejam:





“Meu nome é Juliana Sutério, li o artigo (que você escreveu na coluna da Anna Marina), 'Doar é amar o desconhecido'. Lendo, eu na hora pensei: oportunidade de falar com alguém sobre uma situação que vivi. Realmente, não sabia com quem dividir minha indignação e constrangimento. Na verdade, foi mais um sentimento de injustiça, aquele que a gente se sente obrigada a se calar diante de um mundo machista, cruel e hipócrita.

Enfim, não faz muito tempo, fui doar sangue. Já havia doado uns anos atrás (quando ainda era casada). Doei apenas uma vez, porque sempre que ligava na instituição para tirar dúvidas a resposta era que eu não podia doar devido ao hipotireoidismo. Um dia, a regra mudou; se a tireoide estivesse controlada, poderia realizar a doação. E assim aconteceu.

Recentemente, quis doar, fui até o local, tomei aquele lanche e na hora da entrevista me perguntaram meu estado civil. Respondi que era divorciada. Aí as coisas mudaram. Perguntaram se eu havia tido relação casual. Respondi que sim, com preservativo. Com isso, fui impedida de doar sangue, tentei entender e questionei dizendo que anos atrás havia doado e tinha relações com meu marido sem o uso de preservativos. E perguntei: 'Por que uma pessoa casada pode doar mesmo sem proteção e os solteiros com proteção não podem?'. Fiquei decepcionada ao ouvir a resposta. O atendente disse que no casamento há uma relação de confiança. Na mesma hora saiu um grande 'oi???' de dentro de mim.





Como sabia que a tal regra não havia sido criada por ela, só falei como me sentia e fui embora triste, mas triste mesmo! Tanta gente morrendo e o mundo não evoluindo. Fiquei pensando: para solteiro doar sangue tem que ficar seis meses sem ter relações sexuais? Quem fica esse tempo todo em abstinência? Quem é casado e 100% fiel ou será que todo mundo mente?.

Concordo que doação de sangue é coisa séria, mas não fez sentido, pra mim: transar com marido sem preservativo é seguro, transar com desconhecido com proteção não é?. Nesta época (uns meses atrás), eu já vinha revoltada com o mundo, que tá todo errado, e fui pra casa pensando: que mundo horrível, cheio de julgamentos e preconceitos.

Não perco mais meu tempo, que Deus ajude a quem precisa, tentei fazer minha parte. Peço desculpas pelo desabafo, sou um pouco polêmica, não sou muito de poesias, tive que aprender a viver no mundo real. Infelizmente, muita gente não se preocupa mesmo com o outro, não doa sangue, não se importa com nada e, parte da parte que quer ajudar, não pode. Espero que o mundo seja mais justo, que as regras parem de barrar a solidariedade.





Enfim, precisava falar. Acho que a realidade também precisa aparecer: mais campanhas, mais ciência e menos preconceitos. Estou tentando aceitar o mundo como ele é, mas não consigo muito. Afinal, precisamos dar o grito às vezes, né?!

Fala sério, acho que só na cabeça do banco de sangue todo marido é fiel. Se fosse assim, nenhuma mulher casada nunca teria pego doença sexualmente transmissível, nem Aids, e nunca teriam filhos fora do casamento. Acorda, Alice! O que protege é a camisinha. Hoje, mulheres casadas costumam estar mais vulneráveis que as solteiras conscientes.”

Obrigada, Juliana. #Fica a dica.

(Isabela Teixeira da Costa/Interina)