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Vai um cafezinho? Exame genético ajuda a ingerir cafeína de forma correta

Genes são considerados para definir a melhora da performance esportiva com uso da cafeína e a sensibilidade ao seu consumo


07/04/2021 04:00

Café é uma das bebidas mais ingeridas no mundo, mas consumo de cafeína exige cuidados (foto: Nereu Jr/Divulgação)
Café é uma das bebidas mais ingeridas no mundo, mas consumo de cafeína exige cuidados (foto: Nereu Jr/Divulgação)

Para ser fiel à realidade, acho que só aprendi a gostar muito do café na Itália. Por aqui, aquele café de beirada de fogão a lenha de antigamente, ou de garrafa térmica nos tempos mais remotos, só começou a melhorar a partir do espresso. Honro meu gosto, tomo praticamente um meio litro de café pela manhã – e tomaria mais ao longo do dia se tivesse ânimo e tempo. E não é sem razão essa minha preferência: o café é uma das bebidas mais ingeridas no mundo, e quem consome não sabe é que contém mais de mil ingredientes ativos, como cafeína, minerais, vitaminas, compostos fenólicos, polissacarídeos, lipídeos e aminoácidos.

No entanto, não é difícil perceber que existe uma resposta heterogênea com relação à cafeína: enquanto algumas pessoas simplesmente não conseguem viver sem, outras não podem nem sonhar em ingerir. “Algumas pessoas são sensíveis à cafeína, apresentando problemas de digestão e gástricos, alterações de ritmo cardíaco e pressão arterial, agitação emocional e distúrbios do sono, situações em que o café deve ser deixado de lado”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Mas por que essa resposta é tão diferente? “Antes de 2006, os artigos eram bem controversos, metade falava que o café fazia bem e a outra que fazia mal. Isso acontece porque existem influências genéticas”, afirma o geneticista Marcelo Sady, pós-doutor em genética e diretor-geral Multigene.

De acordo com o geneticista, os estudos mostram que é necessário levar em consideração o genótipo de no mínimo três genes: Cyp1a2, Adora2A e Ahr. São eles que serão considerados para definir a melhora da performance esportiva com uso da cafeína e a sensibilidade ao seu consumo. “Um gene que metaboliza a cafeína é o Cyp1a2. Dependendo do genótipo, nós podemos classificar os indivíduos como metabolizadores rápidos ou lentos de cafeína. O indivíduo que metaboliza rápido vai eliminar a cafeína e conseguir obter os benefícios dos outros componentes do café, que podem atuar como protetores e antioxidantes. Se o indivíduo é um metabolizador lento, a cafeína permanece mais tempo no organismo e pode levar a um efeito vasoconstritor, que tem sido associado a um maior risco de hipertensão e doenças cardiovasculares”, afirma o geneticista.

Essa resposta diferente está associada a fatores genéticos, idade, sexo, treinamento e dieta, principalmente se pensamos na cafeína com base na performance atlética, segundo o geneticista. “Dependendo da dose, das xícaras de café tomadas por dia, o indivíduo pode apresentar um risco maior de doenças cardiovasculares se ele for um metabolizador lento. Se ele for um metabolizador rápido, o café acaba diminuindo o risco de doenças cardiovasculares. O genótipo que leva a um metabolismo mais lento da cafeína é tão comum que, em algumas populações, o índice é de 50%, o que quer dizer que de cada 2 indivíduos, um apresenta uma sensibilidade maior para a cafeína. Essas diferenças individuais no consumo da cafeína também estão associadas ao seu metabolismo, onde atuam proteínas e enzimas que são muito importantes”, diz o especialista.

No caso do receptor Adora2A, é justamente por conta desse gene que a cafeína pode ter efeito estimulante. “Esse é um receptor de adenosina, uma enzima que pode dar essa sensação de fadiga mental. Como a cafeína compete com a adenosina, ela impede a ligação a esse receptor e por um tempo, pelo menos, confere sensação de bem-estar, de hiperatividade e melhora da cognição. Alguns estudos mostram que a cafeína pode influenciar níveis de neurotransmissores, serotonina, dopamina, então pode ter uma leve ação antidepressiva”, explica o geneticista.

Um dos estudos que relacionam o metabolismo da cafeína à influência genética já mostrou que, em corredores, os metabolizadores lentos de cafeína melhoraram o tempo em 1,3 minutos com o consumo de cafeína, enquanto os metabolizadores rápidos melhoraram em 3,8 minutos. “Mas a cafeína em quem tem metabolismo mais lento está associada a um maior risco de hipertensão e infarto do miocárdio. Então, pessoas que querem utilizar a cafeína como um suplemento para melhorar esse efeito ergogênico (de melhora da performance) precisam tomar muito cuidado”, diz o geneticista.

Por fim, o especialista ressalta que o exame genético é extremamente importante para poder predizer essas respostas e utilizar a cafeína e os suplementos de uma maneira adequada. “Lembrando que para alguns indivíduos pode aumentar demais o risco de infarto do miocárdio. Esse risco pode ser 3,8 vezes maior se o indivíduo for metabolizador lento, por exemplo, e consumir mais que 200mg por dia de cafeína”, finaliza o geneticista.

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