Esqueça aquela história de que eliminar os carboidratos da dieta é a solução para todos os problemas da vida – de perder peso e ganhar músculos à diminuição das dores. “Há muitos conceitos errados sobre quando e como comer carboidratos quando a meta é perder peso. Cortar carboidratos pode ser muito difícil e atrapalhar uma série de questões do organismo, pois eles são responsáveis pelo fornecimento de energia. A maioria das pessoas pode perder peso ou viver normalmente sem cortar drasticamente os carboidratos. Mas é verdade que comê-los em excesso pode afetar a saúde de muitas formas negativas”, explica a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Apesar de dietas da moda e tendências influenciarem a decisão de muitas pessoas em ingerir apenas proteínas, gorduras boas, frutas e verduras, o carboidrato pode ser inserido no plano alimentar inclusive para ganhar músculos na academia e emagrecer. “Quando você consome os tipos corretos (de preferência, aveia, tubérculos, legumes e grãos integrais) e está atento às porções, não existe problema”, observa a especialista.
“A população em geral deve consumir, com equilíbrio, carboidratos simples, farináceos refinados e açúcares. Os carboidratos devem ser consumidos com moderação por quem tem disfunções metabólicas como obesidade, diabetes e síndrome metabólica”, diz Marcella.
A nutróloga explica que carboidratos complexos, os polissacarídeos, estão unidos em cadeias longas, complexas e ramificadas, como as fibras alimentares, que requerem mais energia e tempo para ser quebradas em açúcar para obter energia. Dessa forma, além da qualidade, é necessário ficar atento às quantidades, que podem, sim, causar efeitos diretos e rápidos no organismo.
A seguir, listamos alguns efeitos negativos do consumo excessivo de carboidratos.
Sempre inchado. É comum ficar inchado de vez em quando, mas quando isso é constante, os carboidratos simples e complexos podem ser os responsáveis. O açúcar que eles contêm pode ser excessivamente fermentado pelas bactérias da microbiota intestinal, o que lentifica o trânsito digestivo e leva à sensação de distensão abdominal, como um balão na sua capacidade máxima, pela liberação de gases na luz intestinal.
O peso está aumentando. Quando comemos mais calorias do que gastamos, aumentaremos o peso. Com o consumo excessivo de carboidratos, produzimos mais insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que leva a glicose para as células do corpo, estimula as células adiposas a formar mais gorduras e pode contribuir para o aumento do apetite. Além disso, os carboidratos simples têm um tempo de digestão menor e isso interfere na saciedade, o que pode fazer com que você sinta fome logo após ter comido.
Problemas de pele. O sinal mais rápido que a pele pode dar de que há excesso de carboidratos é o surgimento de inflamações como a acne. Alimentos ricos em carboidratos, que contam com farinha branca, são um dos principais causadores de quadros acneicos. Esse ingrediente é rico em carboidratos simples que aumentam a produção de insulina, substância que favorece a produção de hormônios que estimulam a pele a secretar grandes quantidades de óleo e de sebo, o que aumenta a probabilidade de desenvolver acne e piorar a inflamação, diz a médica Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A longo prazo, o consumo excessivo pode acelerar o aparecimento de rugas e flacidez, por meio de um processo chamado glicação. “Nesse processo, a glicose que fica solta no sangue liga-se às proteínas, formando assim os AGEs (produtos finais da glicação avançada). Esses AGEs causam a desordem tecidual, degradando as fibras de colágeno e elastina e levando à perda da elasticidade da pele, formação de rugas e ao envelhecimento do tecido. É necessário utilizar suplementos antiglicantes, como Glycoxil, para reverter os danos”, explica a nutricionista Luisa Wolpe Simas, consultora da Biotec Dermocosméticos.
Queda de cabelo. O consumo excessivo de açúcar pode afetar os cabelos. “O aumento de insulina provocado pela ingestão de açúcar faz com que sejam liberados hormônios que inibem a divisão celular da raiz capilar, além de provocar um processo inflamatório que afeta o couro cabeludo, favorecendo o afinamento dos fios e a queda capilar”, ressalta o médico tricologista Lucas Fustinoni, membro da World Trichology Society.
Cáries. “A formação de cáries ocorre quando as bactérias da boca metabolizam o açúcar que consumimos, tornando o pH da boca ácido e, consequentemente, provocando a desmineralização do esmalte dos dentes e o aparecimento das cáries. O pior é que o início dessa ação ocorre poucas horas após a ingestão do açúcar. Além disso, o açúcar também favorece o acúmulo de placa bacteriana, que, quando não removida adequadamente, pode ocasionar gengivite e mau hálito”, alerta Hugo Lewgoy, cirurgião-dentista e doutor em odontologia pela USP.
Sono. Se você costuma comer carboidratos à noite, é provável que sua insônia esteja relacionada à comida. “O açúcar requer que seu corpo trabalhe para processar a glicose e não lhe permite descansar. Você pode evitar esse efeito deixando de comer carboidratos simples, desde a tarde, para que o corpo tenha tempo de processá-los antes da hora de dormir”, aconselha a nutróloga Marcella Garcez.