Jornal Estado de Minas

Infância roubada pelo clima de terror da pandemia

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Sou do tempo em que as casas tinham imensos quintais, com muito espaço e muitas árvores frutíferas, mas o espaço para brincadeiras da meninada era a rua. Os carros eram poucos, os vizinhos tomavam conta e a vida seguia na paz de Deus. Sou do tempo da amarelinha, da bola de gude, do esconde-esconde, de soltar papagaio, de pular corda e mais tudo que aparecia. A tarde depois da escola seguia firme até a noite começar a cair, chegava a hora do jantar e o dever escolar ficava para a manhã seguinte, era preciso dar às crianças tempo para descansar e brincar.





Bons tempos aqueles, que terminaram de vez. Criança não pode ir nem ao passeio sem acompanhante, as brincadeiras de rua terminaram de vez, as amizades foram separadas pelos andares dos apartamentos, menino de hoje não brinca, sua única distração são os jogos no celular – de preferência deitado na cama ou sentado na sala. Tomar sol transformou-se em um problema difícil de resolver, a vitamina D que se dane.

Tenho dois sobrinhos-netos que são como filhos para mim – um está com 9 anos e outro com 5. Não conhecem nenhuma dessas brincadeiras, nunca pegaram em uma bola de gude, não sabem o que seja correr solto pela rua, de pés no chão. Nesses tempos de pandemia, passam o dia inteiro fazendo as lições da escola, a sala de aula mudou-se para celular ou computador de cada um. E isso rola o dia inteiro, o tempo de brincar simplesmente acabou. Vez por outra, acompanho alguma lição e um dia desses o aluno devia fazer dois grafites usando a boca e os pés para segurar os pincéis. Fiquei pateta com a novidade, me informaram que é para que a criança aprenda as possibilidades de comunicação. Então tá, pensei.

Só que essas crianças ficam presas em casa, sem companhia de amigos, com poucos adultos, pouco espaço e uma determinação para aprender a aceitar o “não” como uma nova regra de vida. Nem todos os adultos aceitam a COVID-19 com uma situação que deve ser abordada como uma necessidade de segurança, mas como uma avaliação do problema que a negatividade total e diária causa na vida das crianças. Como observadora de fora, tenho avaliado que as crianças – as especificas e as no geral – têm perdido totalmente a espontaneidade, a alegria sem restrições, que faz parte da infância. Elas estão se habituando a obedecer, cercadas pelo aterrador medo de uma doença que não tem futuro – só sabe matar. Como estou acostumada a avaliar a proporção dos recuperados, que quase não é divulgada, aprendi que a ocasião é grave, mas que a esperança está lá, guardada pelos recuperados.





Fico imaginando o que é que pode acontecer com essas crianças, cuja infância está sendo roubada por um clima de terror que é incutido, dia e noite, na cabeça dos adultos – a maioria não vê nenhum futuro para a humanidade. Aquela alegria que nos acompanha e fortalece ao longo da vida foi sufocada pelo terror generalizado de um mal que ninguém sabe realmente como é, de onde veio e como poderá ser enfrentado. Como penso positivo, acredito que o que está acontecendo é um clima mundial de terrorismo, praticamente ninguém pensa de forma positiva – com esperança de que o terror será vencido não só pela ciência como pelo pensamento positivo da humanidade.