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Livro relata detalhes da gripe espanhola em Santa Luzia

Obra de Lygia Teixeira Vianna Santos relembra casos de como a doença causou medo na cidade da Grande BH


postado em 13/07/2020 04:00 / atualizado em 12/07/2020 16:17

Telefonista se protege da gripe espanhola, que matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo(foto: Reprodução de Internet)
Telefonista se protege da gripe espanhola, que matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo (foto: Reprodução de Internet)
A coluna hoje pertence a Adalberto Andrade Mateus, secretário de Cultura de Santa Luzia, que conta a história da gripe espanhola na cidade.

“Graves crises são acompanhadas de momentos de dúvida que levam as pessoas ao passado em busca de seus registros e da memória coletiva. É como se a humanidade buscasse, pela comparação, parâmetros para o seu comportamento diante a situação vivenciada. A pandemia do novo coronavírus, em 2020, imediatamente levou a sociedade, os pesquisadores e a imprensa de volta ao ano de 1918, quando o mundo viveu as incertezas e o medo da morte provocados pelo vírus Influenza. Apelidada de gripe espanhola, embora não tenha se iniciado na Espanha, a pandemia matou, de acordo com cálculos da Organização Mundial da Saúde (OMS), 50 milhões de pessoas entre os anos de 1918, fim da Primeira Guerra Mundial, e 1920.

No Brasil, foram cerca de 35 mil pessoas. A gripe espanhola, que teria seu primeiro caso registrado no país em setembro de 1918, logo se espalhou por todo o território brasileiro, alcançando seu pico de contágio entre os meses de outubro e novembro. A gripe chegou a Santa Luzia e um raro depoimento sobre a epidemia e seus reflexos na cidade foi dado por Lygia Teixeira Vianna Santos (1902-1986), que deixou o seu relato no livro Rua Direita: Memórias. Contando com 16 anos em 1918, Lygia deixou registrados os momentos de aflição vividos por sua família e por boa parte dos luzienses durante a epidemia.

Em uma época de poucos recursos de comunicação, Lygia informava que as notícias da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) só chegaram à cidade devido à participação do médico luziense José Camilo de Castro Silva (1892-1977) na missão médica brasileira que foi ao conflito. Outras notícias esparsas chegavam por jornais publicados no Rio de Janeiro. Já com a gripe espanhola foi diferente. Devido à sua gravidade, logo suas notícias chegaram a Santa Luzia. 'Nas escadas da igreja da matriz, na venda de João Maria, na farmácia Castro Silva, formavam-se as reuniões para comentar as desgraças. Era comum  ouvir essa informação: – Vocês não conhecem o Zezinho, filho do Custódio Alves, que mora em Barbacena? – Sim. – Pois, morreu de gripe', escreve Lygia.

Santa Luzia mobilizou-se. Em primeiro lugar, preces a Deus. A matriz enchia-se todas as noites de fiéis que pediam ao Salvador para resguardar a cidade. E os dias iam correndo, à medida que o pavor crescia. Alguns velhos, conformados com a sorte que os esperava, exclamavam: – ‘Ora, também, já vivi muito’. Os mais moços, presos à vida, lançavam mão de todos os recursos para se livrar da terrível moléstia. As notícias de Belo Horizonte amiudavam. Mortes e mais mortes, inclusive de alguns luzienses que lá residiam, relembra em suas memórias.

O livro de Lygia ajuda a compreender melhor os acontecimentos de quando a gripe chegou à cidade: 'Um dia, a bomba estourou. Pelos lados do campinho, nos casebres que ali se distribuem, surgiam os primeiros casos de gripe (…) A espanhola vinha subindo a Rua Direita. Apertava o cerco. Uma tarde, reunimos a bagagem e partimos para a chácara', conta ela. A escritora registra, ainda, um episódio familiar. Durante a epidemia, o seu cunhado retornou de uma viagem. Médico de renome, suas opiniões eram acatadas por toda a família: 'Ao chegar à fazenda, foi logo dizendo: – Arranjem as malas, vamos voltar para a cidade. Ninguém conseguirá escapar à gripe. Não adianta esconder’. Diante dessa opinião, voltamos para a cidade. E foi o erro. Em breve, a nossa casa era um hospital. (…) De todos nós, a que pior passou foi minha irmã Ceci, exatamente a esposa do médico. Ficou uma semana desacordada, com febre altíssima. A minha mãe teve um parto prematuro, correndo risco de vida. A criança pereceu'.

Pelo grande número de enfermos, muitas vezes, a imprensa mineira se referia à gripe espanhola como o mal reinante. Em Ouro Preto, somente na sede, foram 74 vítimas. O jornal Ouro Preto, de 25 de dezembro de 1918, relata a força-tarefa formada na cidade para socorrer os enfermos. Em todas as localidades, ações eram empreendidas no sentido de se formarem equipes para atendimento aos doentes e hospitais de campanha nas maiores cidades. Santa Luzia, que conta com o Hospital São João de Deus desde 1840, também reforçou suas equipes. A ex-priora da instituição Beatriz de Almeida Teixeira relembra esses momentos na trajetória da casa de saúde, contando com a participação dos membros da Irmandade. 'Os irmãos Adolfo e Alonso Silva relatavam que,  junto com alguns confrades, se mudaram para o hospital a fim de colaborar com a equipe médica no atendimento dos enfermos. Na história do Hospital São João de Deus, é uma das maiores lições da generosidade humana', declara Beatriz Teixeira”.

 




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