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É possível superar a Páscoa sem chocolate, mas não sem a família

No domingo da celebração do renascimento de Cristo recebi muitas mensagens e um telefonema em especial


postado em 20/04/2020 04:00


É possível superar a Páscoa sem chocolates, mas, sem comunicação com família e amigos não dá. E este ano de reclusão foi assim: o domingo da celebração do renascimento de Cristo veio repleto de doces mensagens de felicidade e superação. Uma delas, em especial, de meu sobrinho, afilhado e filho do coração que mora no Canadá com a família. Já estive lá uma vez, mas não dá para ir muito porque não existem linhas diretas de avião e a viagem dura praticamente dois dias. Mesmo para quem não se incomoda com viagens aéreas e dorme numa boa, é longe pra burro.

Ele e a família – mulher e duas filhas – foram há mais de 20 anos para lá. Ele, engenheiro; ela, bióloga. Ganharam bolsas em uma das melhores universidades de lá, numa cidade de que nunca havíamos escutado falar, chamada Edmonton, no estado de Alberta. Primeiro moraram com as filhas num desses locais para estudantes com família. As meninas, lutando para aprender língua nova, ficavam o dia inteiro em uma creche, até se ambientar com as mudanças. Como criança aprende logo, os pais tiveram tempo para se formar nas especialidades que foram fazer e logo depois moravam todos juntos – e felizes, apesar da saudade.

A primeira vez que as meninas vieram ao Brasil foi quando a avó, que morava em minha casa, onde se tratava de um câncer terminal, foi embora. Elas eram muito bem tratadas, cabelos longos e uma praga que não via há anos: ambas tinham piolhos. O pai explicou: como viviam numa cidade onde o inverno podia marcar menos 45 graus, era difícil manter os piolhos longe, porque eram comuns no restante da classe escolar. Lavar cabeças frequentemente era uma dificuldade e um perigo. Pente fino, Neocid e muita água e sabão deram cabo da praga em poucos dias – e, por sorte, as cabeças ficaram limpas.

Fui a Edmonton para comemorar o aniversário de meu sobrinho e foi como se tivesse entrado em um filme. A cidade, grande, parece um cenário, com suas ruas largas, arborizadas, suas casas cuidadas, cercadas de jardins, limpeza total. A casa, linda, a segunda que o casal comprou, é grande, tem quatro andares, quartos amplos, aquecimento central, quartos para a família e as visitas, jardim em torno, varanda com poltronas, churrasqueira, conforto total. A primeira casa que compraram foi alugada naquele sistema: com tudo dentro, o casal só levou objetos pessoais.

A região é das mais bonitas do Canadá. Fui levada a visitar as montanhas congeladas, conhecer o Lake Louise, de puríssimo azul, contrastando com as montanhas de neves eternas no fundo, as florestas com ursos e alces, sem falar nas lojas de artesanato índio, hotel montado em um palácio, maravilha pura. E foi desse cenário de sonho que recebi, no domingo de Páscoa, telefonema de meu sobrinho e família. A reclusão continua a mesma. As meninas, que trabalham, estão em casa. E ele, que é diretor de uma grande firma de engenharia do estado – Alberta – também está trancado.

Como aqui, ninguém sai, ninguém vê ninguém, ele e as filhas têm o direito de passear com os cachorros perto de casa – uma vez por dia. A reclusão é mais curiosa porque a cidade, perfeita como cenário, como já disse, é absolutamente vazia. É possível circular pelas ruas sem ver uma só alma – mas está tudo fechado. Até o shopping center, que tem cerca de 80 lojas, com butiques de grandes grifes europeias. No votos de Páscoa que recebi, uma queixa igual à que fazemos aqui – ninguém aguenta mais ficar em casa, sem poder sair, principalmente agora que a neve está derretendo e a promessa de dias melhores é um sonho que ninguém sabe quando é que começará a valer.

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