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Estado de Minas

Das casas que frequentei na infância, ficam as lembranças de um tempo feliz

Hoje, a distração e a alegria sem valor não existem mais. Qual será a lembrança dos jovens atuais no futuro?


postado em 16/03/2020 04:00 / atualizado em 13/03/2020 21:01


Viver por muito tempo cobra um preço razoável para a memória sentimental das moradias – se podemos dizer assim. Quando deixamos Santa Luzia para morar na capital, ocupamos uma casa que meu pai adquiriu naquele tempo em que isso era facilitado para os funcionários públicos do estado. Médico, mereceu uma imensa casa na Rua Piauí, construída no nível da rua, como era a arquitetura da época, do alpendre e jardim lateral e um “quintal” imenso, tinha mais de 60 metros.

Nesse terreno havia de tudo – uma pequena horta que minha mãe mantinha para gasto caseiro, frutas (como deliciosas amoras) e os pés de mamona, cujas favas, deliciosas, torradas pelo sol, eram veneno puro, quase mataram a mim e minha irmã, que nos fartamos com elas o dia inteiro.

À noite, quase morremos, escapamos por pouco, com médico na cabeceira e tudo mais. Sinto saudades da casa, da qual me lembro perfeitamente. Mesmo tendo me mudado de lá com menos de 10 anos. Como o prédio do jornal está a menos de dois quarteirões dela, passo por lá vez por outra – e só vejo no lugar um prédio imenso.

Como naquele tempo a cidade era pequena, era possível fazer o recorrido das casas da família, era costume visitar um parente ou outro, sempre. Então, como fomos morar no Santo Antônio, na Rua Leopoldina, de lá íamos a pé para o Carmo, onde moravam várias pessoas da família.

Na esquina da Grão Mogol com a Caldas, ficava a casa de minha tia, projetada pelo marido, Raphael Hardy, que tinha uma particularidade: a cozinha dava direto para a rua principal e o acesso ao restante da moradia pela rua lateral. A curiosidade era grande, muitos transeuntes paravam para ver aquela novidade.

E na Caldas morava Sílvio Vasconcellos, que depois fui visitar nos Estados Unidos, minha tia Yayá com seus três filhos e um imenso pé de manga no canto do muro, meus tios Camilo e Gegê, cujas casas modestas acompanhavam o modelo da região e da época. Mas era no Carmo que a família se encontrava sempre, em reuniões animadas, quase sempre realizadas na casa da minha tia Ló.

A pé também era o caminho que fazíamos para descer a Rua Leopoldina até a Levindo Lopes, onde morava meu primo e médico Angelo, que acudia a toda a família, qualquer que fosse a doença. A mulher, que tinha só uma filha, gostava de me chamar com o nome da filha que gostaria de ter. E na varanda que ficava em cima da garagem da casa, onde gostávamos de brincar, a filha da casa e meu primo que morava na Sergipe, médico importante hoje, mas que na época pintava o sete. Numa dessas brincadeiras, espetou vários alfinetes sem cabeça em algumas bananas, tentando espetar a língua da dona da casa que não nos dava tréguas.

Ele morava na Rua Sergipe, com os pais e outro irmão que já se foi e onde íamos almoçar vez por outra, sempre às sextas-feiras, junto com um colega de seu irmão, que também já se foi, mas que ficou meu amigo ao longo da vida, para desespero da mulher que nunca entendeu isso.

Outras casas de família que já se foram ficavam no Santo Antônio. A primeira delas, movimentada porque com mais jovens, era na altura do Hotel Mercure. A divisão em frente era usada para o semanal jogo de futebol da meninada da família, onde eu, fiapo de gente, funcionava com goleiro. E todos os domingos um dos moradores da casa, irmão da proprietária, nos dava alguns trocados para irmos ao Cinema Avenida.

Nunca me esqueci, e nunca mais consegui encontrar, o seriado Nioca a deusa de Joba, que era nossa paixão, na época. Na volta, parávamos na Rua da Bahia, para tomar um copo de “groselha capilé”. Um pouco mais acima, e mais próximo da igreja, ficava uma nossa prima querida. A família era dona de uma fazenda e ela veio morar com o marido, professor de português no Instituto de Educação na cidade. Ele era meu protetor na escola onde estudei e ela educou uma das minhas irmãs. E na delícia da cozinha de sua casa, era servida a “farinha de pixé” que nunca mais encontrei. E que era feita com fubá, recém-moído.

Nada disso existe mais, só na memória, mas dá para lembrar momentos que eram ótimos, amorosos, amigáveis e não custavam nada a ninguém. Hoje, a distração e a alegria sem valor não existem mais – qual será a lembrança dos jovens atuais no futuro?

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