(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Moda do quebra-crânio revela o estilo de vida tóxico do mundo de hoje

A pediatra Denise Lellis adverte: a internet conversa mais com crianças e adolescentes do que os pais


postado em 28/02/2020 04:00


O que leva jovens e adolescentes a cometer atos que trazem consequências graves? Em 2017, foi a vez do boom do jogo virtual Baleia Azul, no qual a garotada se inscrevia, recebia diversos desafios e ia cumprindo cada um deles secretamente – de coisas bobas a se cortar e até tirar a própria vida. Agora, a moda nas escolas é o chamado quebra-crânio, desafio da rasteira ou roleta humana, que não tem nada de brincadeira. É uma sacanagem com o colega. Dois amigos ou amigas – porque tem muita menina participando – colocam um terceiro entre eles, pedem para que dê um pulo e quando a vítima salta, leva uma rasteira e cai de costas no chão.

Vêm ocorrendo vários desmaios por causa dessas batidas de cabeça. Uma garota morreu por causa de um traumatismo. O pior é que a agressão covarde, filmada e postada na redes sociais por centenas de adolescentes, é feita dentro de casa. Em um dos vídeos, dois rapazes fazem a pegadinha com a mãe, que cai desacordada e eles riem. Segundo psicólogos, atitudes assim na adolescência são consequência da infância e do fato de os jovens estarem sozinhos.

Denise Lellis, ph.D em pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que essa atitude ultrapassa os limites do bullying. Trata-se de uma agressão física que denota total falta de empatia e de preocupação com o bem-estar emocional e físico do outro. A especialista alerta que isso pode ser consequência do estilo tóxico de vida ao qual as crianças têm sido submetidas. “Não é falta de palmada, mas falta de presença”, diz a doutora Denise.

“Quando crianças e adolescentes assistem a esse tipo de vídeo e saem repetindo tal atitude, é porque não têm um adulto para dividir e trocar ideia. E aí mora o perigo. No momento, o foco está nas vítimas, naqueles machucados fisicamente, mas é preciso olhar para os adolescentes que vêm fazendo isso, pois o futuro deles está em jogo. Quem será esse futuro adulto que agride sem se preocupar com o outro? A adolescência é consequência da infância”, comenta a pediatra.

A especialista conta que há muitos comentários culpando a nova geração por não ser resiliente e não ter se desenvolvido emocionalmente. Mas, segundo ela, tudo isso começa na infância. “Por meio de sua presença, os pais têm a oportunidade de impedir que esse tipo de comportamento agressivo aconteça. Pais que assistem a esses vídeos com os filhos e trocam ideias com a criança, criticando esse tipo de atitude, estão agindo de maneira preventiva”, reforça a pediatra.

No caso de famílias com adolescentes que viram os tais vídeos, o conselho é chamar para uma conversa e tentar ajudá-los a se colocar no lugar de quem pode se machucar. Os pais devem orientar e alertar o filho, pois ele também pode ser vítima de atos assim. É importante conversar de forma clara e verdadeira para que não se crie um pânico em relação aos amigos. “Essa geração não é culpada, mas a vítima, pois está sozinha. A internet tem conversado muito mais com crianças e adolescentes porque estamos permitindo que isso aconteça. Porém, muita atenção: a internet também não é a vilã. O vilão é o estilo de vida. Estamos deixando nossos filhos à mercê de quem quiser falar com eles. Um bom indicador é: se a criança não pode andar na rua sozinha, então também não pode ficar na internet sozinha”, enfatiza Denise.

Está aí uma oportunidade para a escola, a partir desses fatos, alertar e trabalhar o cuidado com o outro e a empatia, pois a criança que passou pelo quebra- crânio se machucou não só fisica, mas emocionalmente, podendo se sentir humilhada e constrangida. É uma violência infinita. “Meu último recado aos pais é: aproveitem essa oportunidade para dialogar com seus filhos. Não se deve procurar culpados, mas se abrir ao diálogo, independentemente da idade da criança”, conclui a pediatra. 
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)