(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Aflições modernas


postado em 13/08/2019 04:00


Tenho sempre uma certa dúvida sobre o avanço sem fronteiras da ciência. Como nasci no século passado, viver podia ser mais perigoso, mas era muito menos traumatizante. Crianças tinham sarampo e só não iam para a escola quando tinham febre, caxumba doía, mas melhorava com uma faixa de algodão enrolada em torno do pescoço. As doenças foram, aos poucos, se transformando em epidemia – será que somente porque a população cresceu muito? Tenho minhas dúvidas, mas estou sempre vendo pais apavorados porque os filhos espirram, tossem, têm nariz escorrendo. A solução é remédio sobre remédio, ficar em casa, evitar brincadeiras. O corpo humano passou a ser estudado em suas mínimas funções – mas muitas delas sem solução. Meu neurologista, Francisco Cardoso, me recomenda sempre exercícios, atividade que não consigo mais encarar. Já andei muito, já fiz alguns exercícios, mas, atualmente, o que gosto mesmo é de me espichar e ver televisão. Depois de passar o dia inteiro sentada em frente ao computador, é o que mais me atrai.

Agora fico sabendo que isso é um perigo, pode levar até a morte. Pelo menos é o que pesquisou uma revista britânica superconceituada no meio, The Lancet: quem fica sentado oito horas por dia, tem 10% a mais de risco de morte e tem maior propensão a desenvolver doenças vasculares. Quer dizer: aquele conforto de trabalhar descansadamente foi pro brejo. Quem fala sobre o assunto é a cirurgiã vascular e cardiologista Aline Lamaita, do corpo clínico do Hospital Albert Einstein: “Além disso, como a panturrilha é o coração das pernas, a cada contração muscular bombeamos o sangue e ativamos a nossa circulação. Situações em que essa musculatura fica parada muito tempo podem causar uma retenção de líquido nas pernas, levando a inchaço, pernas pesadas, cansadas, aumentando a predisposição de desenvolver varizes e trombose venosa”.

De acordo com a pesquisa, que analisou 16 relatórios sobre idosos dos EUA, Europa Ocidental e Austrália, para cada oito horas sentado é necessário praticar uma hora de atividade física para resistir aos efeitos negativos deste “sedentarismo”. “Embora muitas pessoas com a rotina de trabalho muito pesada não tenham tempo e disposição para realizar atividade física em outro horário, isso é necessário para que haja um desenvolvimento da musculatura efetiva, que poderia de certa forma protegê-los dos efeitos deletérios do trabalho sentado”, afirma a médica.

“O hábito de realizar atividade física regular está relacionado ao melhor controle de peso, melhora do diabetes, controle de pressão arterial e níveis de colesterol, além de um condicionamento cardiopulmonar”, completa a especialista. Mas para pessoas com propensão a problemas vasculares, segundo a médica, o ideal é também introduzir alguns hábitos para ativar a circulação, como realizar exercícios movimentando os pés a cada hora de trabalho sentado; levantar a cada hora e andar para movimentar um pouco as pernas; para alguns casos, usar meias de compressão para conforto e melhor rendimento.

Segundo a angiologista, os hábitos de vida saudáveis, como a prática de atividades físicas, são indicados desde cedo e com cuidados especiais após os 40 anos. “Como depois dessa fase da vida temos uma mudança na estrutura corporal, perdendo massa magra (musculatura), aumento da incidência de outras doenças associadas (hipertensão, diabetes), além do processo normal de envelhecimento, esse grupo deve estar mais atento aos cuidados do dia a dia”, comenta. 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)