Jornal Estado de Minas

Aprendi a bordar na escola. Hoje, há mulheres que não conseguem prender um botão

- Foto: memorial minas vale/divulgação




O Memorial Minas Gerais Vale expõe desde o último sábado (10) até 3 de novembro uma pesquisa rara em Minas: o bordado feminino. Sou de um tempo em que as escolas tinham aulas de bordado para meninas e, no Instituto de Educação, minha professora era Aurélia. Com ela aprendi muitos e muitos tipos de bordado, que fui fazendo ao longo da vida. Em minha casa, às vezes me espanto com o que já fiz, desde jogos americanos até lençóis de linho, gostava de fazer. Tanto que, em certa época, em busca de renda própria, andei produzindo peças de roupa bordadas para parentes e amigas. Fico espantada como, atualmente, algumas mulheres não conseguem prender um botão.

Este é o tema da exposição Bordado em memórias, baseada na pesquisa de mestrado de Isabella Brandão, que estudou a evolução do bordado em Belo Horizonte em sua dissertação feita na UFMG. A mostra está dentro do edital Novos Pesquisadores, que visa trazer trabalhos acadêmicos e científicos para dentro do Memorial Minas Gerais Vale e torná-los acessíveis ao público leigo. O enfoque é o bordado na capital mineira e sua relação com o posicionamento da mulher na sociedade.

Isabella Brandão, que é pedagoga com mestrado em história da educação pela UFMG, vem pesquisando a história do bordado no Brasil e, em especial, em Minas Gerais.
Entre suas observações, está a de que o bordado, que já foi uma “prenda” doméstica ofertada às mulheres nas décadas de 1940 e 1950, repassada de geração em geração dentro de uma família, ensinado até nas escolas públicas – somente para meninas –, de repente se viu relegado a ofício não grato pelas mulheres, que queriam ser vistas como modernas.

“Nas décadas de 1940 e 1950, o bordado era uma das tarefas associadas à imagem da boa esposa, entre outros aprendizados domésticos. Com os movimentos contestatórios do final dos anos 1960, como o movimento feminista, com a maior escolarização e profissionalização das mulheres, a prática do bordado foi perdendo força entre elas, que, nesse momento, já buscavam outras coisas. Com isso, até os cursos de bordado que havia na época foram sumindo”, observa Isabella.

Somente recentemente, com a passagem do século 21, de acordo com a pesquisadora, o bordado vem ganhando outros significados, outros usos, outros modos e ganhando espaço novamente entre as mulheres, e até entre homens. “Acredito que as redes sociais contribuíram para isso. Para as mulheres, é possível escolher bordar e continuar sendo ativa socialmente. Elas não precisam mais ser 'do lar' para ser também bordadeiras. Já tive até alunos homens, jovens meninos que foram acompanhar a mãe em um curso.
Eles chegaram para mim e disseram que iam dar um tempo no videogame”, conta a pesquisadora.

Bordado em memórias
Exposição sobre o bordado em Belo Horizonte, a partir de pesquisa de Isabella Brandão. Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640). Terças, quartas, sextas e sábados, das 10h às 17h30, com permanência até as 18h. Quintas, das 10h às 21h30, com permanência até as 22h. Domingos, das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca. Até 3/11. 
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