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Estado de Minas

Felicidade gratuita


postado em 06/07/2019 04:00


O bom da vida, em qualquer idade, é ela nos revelar instantes que nos fazem voltar ao passado. Com muita felicidade, memórias de tempos felizes são sempre bem-vindas. Como ocorreu comigo esta semana. Voltando ao passado, para reforçar o presente. Quando morava na Rua Piauí, praticamente ao lado do prédio aqui do EM, nossa casa de terreiro imenso, como se dizia naquele tempo, era cercada por outras da mesma época, anos 1930, por aí. E os jardins, em lugar de tropicalismo à la Burle Marx, preferiam usar plantas tradicionais, não existia muita preocupação com o traçado, apenas com o resultado (o que, aliás, tenho visto quase diariamente no canal 590, o Smithsonian; aliás, o jardim do museu que comanda essa emissora dá belas matérias).

Não sei a razão de meu DNA ser ligado a coisas que não preocupam o restante da família. O que me encantava nos jardins antigos era o perfume das flores. Como as imensas latadas de dama-da-noite, com seus cachos de flores, ou os jasmins-do-cabo, gardênias, consideradas as flores da sinceridade, brancas, lindas, perfumadas. É claro que, de tanto gostar, elas existem em meu jardim junto de outra planta, cuja admiração aprendi com minha mãe: o manacá, de flores brancas e azuis. Ela gostava tanto que consegui que um pé fosse plantado na cabeceira de seu túmulo, no cemitério de Santa Luzia. Tenho um cuidador que o mantém sempre viçoso – e florido na época certa.

Esta semana, o passado chegou à minha casa com uma emocionante memória noturna: todos os cômodos estavam perfumados pelas flores que cobrem o pé de dama-da-noite que tenho no jardim desde que me mudei. O perfume me fez voltar à Rua Piauí, que atualmente tem uma “renca” de edifícios completando o passeio e nenhum pé de flor. Não troco essas lembranças por nada. Para completar os bons fluidos da época, parece que os biquinhos-de-lacre estão voltando. O bando imenso, que voava tão logo eu abria a porta de casa para recolher o exemplar do meu EM, sumiu. Mas, esta semana, está voltando aos poucos. Casa com muito verde e muitas árvores como a minha não dá só gambá, que os vizinhos odeiam. Dá outras surpresas. Tarde dessas, meu sobrinho-neto foi me buscar para ver uma dupla pousada na trepadeira da varanda, que ele não conhecia. Eram tucanos, lindos, coloridos, macho e fêmea. Muito calmos. Voavam de lá para cá com a maior segurança, bebiam água e um deles teve a coragem de dar um mergulho na piscina, arrumando depois as penas molhadas.

Outro visitante eventual é um mico, que não se faz de rogado. De vez em quando, está passeando nos fios de luz do lado de fora, na rua. De vez em quando, procura as árvores, onde é muito bem recebido. Tem sempre à disposição uma banana descascada, que vai bicando até acabar. Quando termina a refeição, ou quando perde um pouco da plateia, ele se manda sem o menor problema. Só não sei se é sempre o mesmo – às vezes, aparecem em dupla –, ou se os visitantes são variados. Mas são sempre uma bela surpresa, uma boa recompensa para quem gosta de se cercar de verde.

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