Sou frequentadora do Mercado Central desde os tempos em que a construção antiga nos colocava debaixo de chuva, mas em compensação as barracas de abacaxi ficavam do lado de fora, era possível atacar um pedaço antes de começar a lida doméstica. Sempre gostei de lá e como era frequente, consegui fazer algumas amizades, como por exemplo com uma verdureira que me fornecia brotos de samambaia, uma especialidade da gastronomia mineira sufocada pelos projetos de proteção à natureza. Em Diamantina, era meu banquete no Bar Confiança, delícia pura que não se encontra mais, está proibida. Conhecia também um produtor de carne de sol que era delícia pura, e que não se encontra mais.
O Mercado Central era o local que fornecia tudo de que uma casa precisava em matéria de carnes, frutas, legumes, tinha até o Armazém Medeiros, onde era possível conseguir alguns itens que estavam sumidos. Mas o progresso acaba mesmo com velhas tradições e a instalação de sacolões em todos os bairros está, aos poucos, acabando com o mercado no seu papel principal. A mudança começou no segundo andar, que se transformou em local de venda de artesanato e peças para cozinha, panelas e outros utensílios domésticos. A novidade começou quebrando o galho de dona de casa em busca de panela de ferro ou pedra (você sabia que tem panela de pressão de pedra-sabão?) , divisórias de cipó ou bambu e mil e uma miudezas que eram encontradas só em locais diferentes e afastados do Centro.
É claro que o local ficou mais do que colorido, variado, as lojas de bijuterias, de santos, de algumas bonitas peças com pedras mineiras foram ganhando cada vez mais pontos de venda – e tornaram-se atração turística. Sem falar nos bares que conquistaram clientes fiéis, aos sábados fica difícil passar por eles, ocupam todo o espaço de circulação.
Será que vale a pena? Semana passada, estive lá em busca de uma abóbora-moranga, daquelas bem grandes e amarelinhas, perfeitas para serem usadas para um doce luziense que poucos conhecem e só consegui achar a banca que as vende com muito trabalho. E assim mesmo o vendedor contou que o local é alugado, o proprietário pediu de volta e ele não sabe o que será montado no lugar. Realmente, sinto falta daquela possibilidade de escolha que o antigo mercado nos proporcionava e que atualmente foi sufocada pelos sacolões.