Maior inveja gastronômica que tenho nas últimas semanas é sem dúvida a vitória que os doutores da lei nacional conseguiram de poder traçar uma lagosta na hora que quiserem. À nossa custa, é claro. Lagosta por aqui está sempre pela hora da morte, não é acepipe para qualquer bolso. Deve ser por isso que elas sumiram dos cardápios dos restaurantes da capital. Por aqui, o único endereço que, vez por outra, serve lagosta (aquelas que são chamadas assim por causa de sua conformação e casco) modelo pequeno, quase uma prova para quem gosta do marisco, é o Dona Derna. Não tem todos os dias, e o custo não afronta ninguém. Só o tamanho, para quem aprecia, e não se importaria de pagar mais por uma especialidade tão rara. Deve ser por isso que a liberação da verba para que o STF possa comprar lagosta quando quiser causou tamanha impressão popular E abriu manchete em todos os jornais nacionais.
Já deu para perceber que adoro uma lagosta, que é meu prato preferido, principalmente em Portugal. Tenho recomendado a amigos que conhecem pouco aquele país – e não sabem os bons endereços gastronômicos – um restaurante que fica em Cascais, na Praia do Guincho, que se chama Porto de Santa Maria. Todas as vezes que tive a sorte de ir passar uma temporada em terras portuguesas, baixava por lá, sem pressa e com muito apetite, que a casa é especializada principalmente em frutos do mar.
O restaurante não é muito grande, foi aberto em 1947 e fica literalmente do lado da praia. O resultado é uma vista incrível do oceano, que acalma e aumenta o apetite. Outra graça que tem, e que nunca vi por esses lados, são os viveiros onde o cliente pode escolher a lagosta que quer ter no prato. Elas ficam vivas e de todos os tamanhos, é só examinar a que quer, escolher e ver um funcionário apanhar a bichinha com uma cesta e levar para a cozinha. Ela chega à mesa com todo o frescor e sabor que faz sua fama, porque não é congelada, como acontece por aqui.
O Porto de Santa Maria é restaurante duas estrelas no Guia Michelin e outra coisa que adoro comer lá é santola – tipo de caranguejo que também não existe por aqui. Delicioso, ele chega ao prato aberto, recheado, com aquela carninha branca que desafia qualquer paladar. O que me impressiona por aqui é que com a costa que temos, com mar acompanhando nosso mapa de cima abaixo, não existe no Brasil a cultura gastronômica de frutos do mar.
Muita gente nunca se aventurou a provar uma ameijoa, marisco dos mais comuns em Portugal e dos mais baratos, que pode ser servido como tira-gosto ou como prato de resistência. E o pregado, peixe delicioso que por aqui pode até existir, mas com outro nome. Adoro também gambas e um marisco conhecido com lavagante. E o percebes, um tipo de marisco que parece um pequeno gomo de bambu seco, que é comido ao natural. Já nem falo em ostras, que não gosto cruas, uma ou outra cozida ainda vai.
Sorte, portanto, é dos juízes do STF que podem se fartar com lagosta, sem botar a mão bolso.