Como diz a Bíblia, “a cada dia, basta a sua provação”. Só que esta constatação não fica só com o livro da fé cristã, fica no dia a dia das pessoas que chegam ao que os costumes chamam de “meia idade”. Estou totalmente mergulhada nela e, como avalio bem as coisas, a cada dia descubro mesmo uma nova provação. E quem já passou dos 80, como eu, sabe bem o que é isso. Quando minha audição começou a diminuir, fui toda bacana comprar um aparelhinho que devia ser colocado dentro do tubo auditivo e valia ficar lá até em caso de a pessoa nadar. Meu ouvido não deu para a coisa – fui parar na Audium, que se incumbia desse tipo de novidade, e saí de lá com o habitual: um contato para um lado e outro para o outro lado do ouvido. Com toda aquela complicação que não tenho a menor paciência para seguir: é preciso limpar a possível gordura do ouvido, com uma pecinha e colocar outra, que é a que faz o ouvido escutar. Comecei a mil por hora, achando uma maravilha – depois cansei daquela obrigação diária, por não estar mais acostumada a ouvir tanto barulho.
Sinto que fico marginalizada em alguns encontros com amigos, ainda mais quando o ouvido mais próximo de quem fala é o esquerdo.
Não procurei esse aparelho, mas outro que faz a maior falta: o que consiga aumentar a campainha da porta. Se estou sozinha em casa, quem chega pode rachar de tocar e eu não escuto. Pedi ao responsável pelo sistema, que é dotado de vídeo, para descobrir se havia uma campainha dessas com vídeo que tivesse um som especial para surdos.
Outra doideira que a idade provoca, e que eu nunca soube, é que viver muito significa também o encolhimento das gengivas. Alguém acredita nisso? Os dentes ficam mais expostos, não há conserto, ninguém trata esse tipo de problema, porque, na realidade, não há jeito de aumentar as gengivas. O que acontece é que esse fator provoca alguns problemas delicados, impossíveis de resolver. O único caminho é conviver com eles.
Lance curioso da idade é a capacidade motora das mãos. Os anos trazem um sério problema porque é difícil carregar muitos objetos, ou dispor de muitas opções de coisas que não acabem no chão. A cada banho me lembro de um sabonete que era vendido nos Estados Unidos, soap on a rope, que era um achado – o sabão não caia das mãos porque era preso a um cordão.