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ONCOLOGIA

Proteína ligada ao Alzheimer favorece disseminação do melanoma no cérebro

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Uma proteína chamada beta-amiloide foi recentemente identificada como peça importante para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Aglomerados dela, chamados placas, são encontrados em todo o cérebro de pessoas que desenvolvem os sintomas cognitivos da doença de Alzheimer.



E agora, os resultados de um novo estudo em camundongos por pesquisadores financiados pelo NCI (Instituto Nacional do Câncer) norte-americano, publicado em 9 de março deste ano na revista científica Cancer Discovery, sugerem que a beta-amiloide também desempenha um papel na disseminação (metastatização) do melanoma para o cérebro.
 
Os pesquisadores descobriram que as células de melanoma que viajam para o cérebro produzem seu próprio suprimento de beta-amiloide e que essa proteína é necessária e vital para a sua sobrevivência. 

Eles também mostraram como a beta-amiloide alcança esse feito: reprimindo a resposta imune normal do corpo contra as células cancerígenas que chegam ao cérebro. Ao afastar a resposta imune, a proteína compra tempo para as células cancerígenas se transformarem em tumores completos.




 
O tratamento dos camundongos com drogas que bloqueiam a proteína reduziu bastante a capacidade das células de melanoma de sobreviverem no cérebro. Esses resultados, segundo a pesquisa, levantam a intrigante possibilidade de se usarem drogas desenvolvidas para tratar a doença de Alzheimer para retardar ou impedir que o melanoma se espalhe para o cérebro.

Outros grupos de pesquisa também encontraram conexões intrigantes entre o câncer que se espalhou para o cérebro e distúrbios neurodegenerativos, como a doença de Parkinson. Entre todos os tipos de câncer, o melanoma é especialmente propenso a se espalhar para o cérebro. 

Estudos estimam que entre 40% e 75% das pessoas cujo melanoma se espalha acabarão com uma ou mais metástases cerebrais. Os sintomas desses tumores – que podem incluir convulsões, problemas de visão e audição e dificuldade em pensar e lembrar – podem ser devastadores.




 
Atualmente, não há terapias para evitar que o melanoma se instale no cérebro. Ensaios clínicos de imunoterapias para melanoma avançado mostraram algum sucesso na redução de metástases cerebrais. 

Eles funcionam até certo ponto. Há alguma redução no tamanho dos tumores, mas essas respostas em geral não são duradouras. A equi- pe de investigadores tem estudado os mecanismos que as células cancerosas utilizam para se espalhar e prosperar no cérebro.  Para esse estudo, a equipe começou com uma técnica chamada análise proteômica imparcial. 

Essa abordagem permite observar o conjunto completo de proteínas produzidas pelas células, sem fazer suposições prévias sobre o que será encontrado. Usando essa abordagem, os pesquisadores compararam amostras de melanoma que se espalharam para outras partes do corpo, como os linfonodos dos pulmões, com amostras de metástases cerebrais dos mesmos pacientes.




 
A comparação mostrou que as células retiradas do cérebro tinham diferentes padrões de expressão de proteínas que estão ligadas a doenças neurodegenerativas, incluindo as doenças de Alzheimer, Parkinson e Huntington. Estes incluíam proteínas conhecidas por estarem envolvidas na produção de beta-amiloide.
 
A equipe descobriu que a beta-amiloide produzida pelas células de melanoma interage diretamente com um tipo de célula cerebral chamada astrócito. Essa interação fez várias coisas, incluindo a prevenção de células imunes no cérebro, chamadas microglia, de reconhecerem e matar as células cancerígenas. Juntos, esses resultados levantaram a possibilidade de que o bloqueio da beta-amiloide pudesse impedir que o melanoma se espalhasse para o cérebro.
 
Os pesquisadores injetaram em ratos células de melanoma humano. Uma vez que os tumores foram estabelecidos, eles deram aos camundongos um composto que bloqueia a geração de beta-amiloide. Como esperado, o composto ajudou a reduzir a formação de tumores no cérebro. Esse efeito foi observado independentemente de o medicamento ter sido administrado antes ou depois de as células já terem atravessado a barreira hematoencefálica.   
 
Pesquisas adicionais precisariam ser feitas antes de tentar esses medicamentos em pessoas com melanoma. Esses estudos incluem testar se eles seriam seguros em combinação com os medicamentos de imunoterapia, que agora são tratamento-padrão para o melanoma.