ARTIGO

A infância sequestrada pelas telas

Precisamos formar crianças e adolescentes críticos, que saibam reconhecer armadilhas, proteger seus dados, entender o valor da privacidade e resistir à lógica d

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Fernando Brafmann
Especialista em segurança, cibersegurança, gestão de crises e antiterrorismo


O que acontece quando entregamos a uma criança uma chave que abre todas as portas do mundo – sem manual, sem filtro e sem companhia? A resposta está diante de nós: infâncias hipervigilantes, corpos exaustos, mentes em colapso. A infância de hoje é digital por natureza, mas segue sendo analógica na forma como é cuidada. E essa dissonância tem um custo.


Há alguns anos, chamávamos a internet de “mundo virtual”. Hoje, para crianças e adolescentes, ela é o próprio mundo. É onde aprendem, brincam, criam, amam, brigam e choram. É onde constroem identidade. Ignorar isso é negar a realidade.


O problema não está no digital em si, mas na ausência de preparo para vivê-lo. Muitos pais entregam um smartphone aos filhos antes mesmo de ensiná-los a atravessar a rua. Sem orientação, os riscos se multiplicam: cyberbullying, vazamento de dados, assédio sexual (o chamado grooming), exposição a conteúdos de ódio, violência, automutilação, pornografia. E ainda há os danos silenciosos: dependência, ansiedade, insônia, prejuízo à autoestima e ao rendimento escolar.


Não faltam ferramentas de controle parental. Mas o equívoco está em confundir controle com proteção. Monitorar sem diálogo é vigiar; orientar com escuta é educar. A tecnologia pode ser aliada – desde que usada com transparência, combinada com regras claras e, acima de tudo, com presença afetiva. Não adianta limitar o tempo de tela se o próprio adulto não larga o celular na hora do jantar.


Na minha experiência de mais de 30 anos na área de segurança, vejo diariamente pais perdidos entre a culpa e o susto. Alguns só percebem a gravidade quando há uma denúncia formal, quando surgem prints perturbadores ou quando a escola entra em contato. Mas a prevenção começa muito antes: com escuta, confiança e preparo.


Precisamos formar crianças e adolescentes críticos, que saibam reconhecer armadilhas, proteger seus dados, entender o valor da privacidade e resistir à lógica da comparação constante das redes. Isso só se constrói com diálogo. A escola tem papel vital nesse processo – não apenas como transmissora de conteúdo, mas como espaço de formação ética e digital.


O poder público também precisa agir. É urgente investir em políticas de educação midiática e saúde mental para crianças e adolescentes. É preciso regulamentar a atuação de plataformas digitais que direcionam publicidade para menores, coletam dados e estimulam o engajamento a qualquer custo. Proteger a infância on-line é proteger a cidadania.


Cuidar da infância digital é um dever que começa em casa, se estende à escola e se consolida na esfera pública. Não basta proibir. É preciso entender. Não basta reagir. É preciso prevenir. A infância conectada não está em risco apenas por estar on-line. Ela está em risco por estar sozinha.n

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