Refugiados: a responsabilidade compartilhada de acolher vidas em movimento

Em um mundo marcado por conflitos e deslocamentos em massa, o Brasil tem a oportunidade de transformar o acolhimento em uma política de Estado

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RODRIGO GALLO

Cientista político

Nos últimos anos, o tema dos deslocamentos forçados e da situação dos refugiados tem ocupado espaço crescente tanto nas pautas da imprensa internacional quanto nas salas de aula de relações internacionais. Conflitos na Ucrânia e em Gaza, mais recentes, e os longos desdobramentos das crises políticas em países africanos e a Guerra Civil na Síria contribuíram para tornar o tema mais presente nos meios de comunicação. Diante de crises geopolíticas recorrentes, as migrações forçadas deixaram de ser uma exceção para se tornarem um dos principais desafios humanitários e políticos do século 21, que demandam soluções transversais.


Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), até abril de 2025 o número de pessoas deslocadas por guerras, perseguições políticas ou desastres humanitários chegou a 122,1 milhões – o maior já registrado. Desse total, 42,7 milhões foram reconhecidas como refugiadas, ou seja, pessoas que cruzaram fronteiras nacionais em busca de proteção. O drama humano se intensifica à medida que os recursos para ajuda humanitária diminuem em escala global, ao passo em que as crises seguem em alta – é possível que, em breve, vejamos o impacto também do conflito entre Irã e Israel para o agravamento do cenário de deslocados.


O Brasil tem se destacado no cenário internacional de acolhimento especialmente após o terremoto no Haiti (2010) e a guerra civil na Síria (a partir de 2011), que inauguraram uma nova fase da política migratória nacional. Desde então, o país tem recebido um volume crescente de pedidos de refúgio, com destaque para venezuelanos, haitianos, cubanos, colombianos e sírios. Em 2023, foram 58,5 mil pedidos. Até junho de 2024, mais de 790 mil pessoas estavam sob proteção da ONU no território brasileiro.


Apesar desse avanço institucional, os desafios econômicos são consideráveis. Segundo o Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), cerca de 60% dos refugiados que conseguem trabalho no Brasil atuam em ocupações informais e de baixa remuneração, mesmo quando possuem qualificação profissional que os habilitaria a ocupar posições mais elevadas na hierarquia das empresas. Barreiras como o idioma, o desconhecimento sobre os direitos trabalhistas e o preconceito cultural dificultam o acesso a empregos formais. O impacto se estende também à economia nacional, exigindo políticas públicas mais robustas para inclusão produtiva, habitação, saúde e educação.


A construção de uma sociedade mais justa e acolhedora não se faz apenas com boas intenções. A integração de refugiados exige planejamento, investimento e empatia. Em um mundo marcado por conflitos e deslocamentos em massa, o Brasil tem a oportunidade de transformar o acolhimento em uma política de Estado – sólida, estruturada e comprometida com a dignidade humana. 

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