
Ilustres visitas no meu jardim
Tive a honra de receber micos, tucano e sabiá-laranjeira, além de passarinhos, na casa onde moro. Minhas árvores estão lá para recepcioná-los
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Para não ficar só na leitura, que pede cadeira ou cama, tenho enchido meu tempo com severa inspeção do jardim: o “planta aqui colhe ali” pede presença constante e conhecimento do que as árvores muito altas promovem na vizinhança. Que é supereducada. Nunca recebi uma só reclamação sobre a minha mania de árvores altas, que oferecem sombra e pouso para passarinhos.
Tenho tanta mania que consegui, com o profissional que toma conta do cemitério de Santa Luzia, a graça de plantar um manacá na cabeceira do túmulo de minha mãe e de meu pai. Como ela gostava muito de manacá – tinha um em seu jardim –, o homem cedeu a meus insistentes pedidos.
Na última vez em que estive lá, no ano passado, ele me mostrou o ninho que os passarinhos fizeram. Chocaram os ovos, mas como filhotes já estavam crescidos, foram embora, não vi nenhum.
Os habituais leitores desta coluna devem se lembrar do caso que contei aqui do sabiá-laranjeira que batia diariamente o bico na peça de vidro de uma das janelas de minha casa. Batia com tanta constância que, certo dia, a janela estava aberta e ele foi bater o bico num armário da sala. Ficava lá todos os dias cumprindo sua missão.
Saí de férias e, quando voltei, ele continuava lá, cumprindo seu plano. Tanto bateu que achei que devia querer ficar dentro de casa. Fui ao Mercado Central e comprei uma gaiola para ele. O passarinho se deixou pegar calmamente e foi para dentro da gaiola, que tinha água, alpiste e fruta. Ficou umas duas semanas, até que, um belo dia, apareceu morto lá no fundo. Aprendi de uma vez por todas que não se deve manter preso um pássaro voador.
Tanto aprendi que, no fim da semana, depois de podar muitas árvores do jardim, dei com um tucano lindo, calmamente pousado no pé de ipê. Fiquei um bom tempo apreciando o pássaro, cheguei até a imaginar como ficaria aquele tucano ao lado de outro de madeira colorida, que alguém me deu. Mas logo parei de pensar nisso porque ele, depois de limpar as penas, bateu asas e voou.
Mas não foi apenas o tucano que nos visitou no fim de semana. Como moro em uma área da cidade com muitas árvores, volta e meia aparece por lá uma família inteira de micos. Sobrinhos-netos que estavam me visitando e moram no Canadá nunca tinham visto tão de perto uma família de bichos.
Os meninos correram para fotografar, colocaram várias bananas descascadas no apoio de madeira da escada e ficavam esperando a hora em que miquinhos comiam as bananas.
Como notaram que na escada eles não iriam, colocaram as bananas na grama do jardim. Logo os micos foram para lá e devoraram tudo.
Como uma nova semana começou, estou esperando os bichos que poderão alegrar meus dias.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.