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Estado de Minas

Colírio cura a catarata

Resultado foi obtido em experimentos com cães depois de seis semanas de tratamento. Cientistas se preparam para testar o remédio em humanos


postado em 02/08/2015 10:09 / atualizado em 02/08/2015 10:09

Vilhena Soares

Brasília – A catarata é a maior causa de cegueira reversível no mundo. Basta uma cirurgia. Medicamentos que acabem com a lesão ocular, porém, ainda não existem. Um colírio desenvolvido por cientistas norte-americanos pode mudar esse cenário. O remédio tem como base uma substância pouco produzida pelo organismo de pessoas que sofrem com o problema desde o nascimento. Testado em cachorros, apresentou resultados promissores, divulgados na revista Nature recentemente. O próximo passo será repetir o experimento com humanos.

A busca por uma alternativa ao tratamento da catarata partiu de uma investigação sobre as origens da doença. “Estudamos duas famílias cujas crianças nasceram com catarata e encontramos uma substância em falta: o lanosterol”, explicou ao Estado de Minas Kang Zhang, autor principal e pesquisador da Universidade da Califórnia. A substância é produzida pelo olho e atua na estabilização de proteínas que podem se acumular, causando a catarata.

Detectada a ação do lanosterol, os pesquisadores desenvolveram um colírio com a substância e o aplicaram em cachorros que sofriam de catarata. Após seis semanas de tratamento, os animais mostraram uma melhora considerável. Testes com coelhos também apresentaram o mesmo resultado. “O tratamento reduziu uma quantidade significante da proteína que fica agregada no cristalino, reduzindo a gravidade da catarata em cães. Nosso estudo aponta o lanosterol como uma nova estratégia para a prevenção de catarata e o tratamento dela”, defendem os autores no texto divulgado.

Mais testes Os cientistas acreditam que o resultado pode ser repetido em humanos e adiantam que a próxima etapa da pesquisa tem esse objetivo. Bruno Ricardo Prieto, oftalmologista especialista em cirurgia de catarata, avalia que são necessárias mais investigações até se chegar à possível aplicação clínica do tratamento. “É um trabalho muito interessante, porém precisamos de mais testes. Os animais com maior semelhança ocular conosco são os suínos, não os cães. Ou seja, o mesmo efeito pode não ser repetido”, observa o médico do Visão Institutos Oftalmológicos, em Brasília.

Prieto frisa também que a cirurgia traz mais do que a cura da catarata. “Ela garante que o problema não retorne e ainda corrige falhas de grau, conseguindo uma recuperação de visão ainda maior”, complementa. Segundo o oftalmologista, por ano, 4 milhões de pessoas no mundo são submetidas a esse procedimento. “É a cirurgia mais realizada no mundo e a que mais evolui tecnicamente”, ressalta o especialista.

Para Milton Yogi, chefe do Setor de Catarata da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos pontos fortes da pesquisanorte-americana está no fato de ela apontar para fatores moleculares envolvidos na formação da catarata e, consequentemente, para formas de intervir na evolução da lesão ocular. “Essa fase de pesquisa, no entanto, ainda é um tanto distante da realidade prática para nós. Porém, todo esse tipo de esforço tem grande validade, pois se soma a tantas outras pesquisas em paralelo que, juntas, podem trazer luz a um tratamento seguro e eficiente”, pondera.

A possibilidade de enfrentar a catarata de uma forma menos invasiva e mais barata também chama a atenção de Yogi. “A pesquisa aponta para tendências de tratamento não cirúrgico, o que certamente seria de grande valia para a população. Apesar de muito segura, qualquer cirurgia apresenta riscos inerentes, além de necessitar de complexa logística, recursos financeiros e profissionais especializados”, justifica o especialista, ressaltando que há linhas de estudo focando no uso de células-tronco e nanotecnologia.


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