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Estado de Minas

Pesquisadores descobrem novo modo de fabricação da morfina

A nova droga troca o uso da papoula por plantas como a codeína. A descoberta promete tornar a fabricação do anestésico mais controlada e barata


postado em 05/07/2015 10:20
https://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/07/05/interna_tecnologia,665173/pesquisadores-descobrem-novo-modo-de-fabricacao-da-morfina.shtml

Em 1803, Friedrich Wilhelm Sertürner deparou-se com um anestésico poderoso, capaz de amenizar dores intensas e colocar alguém para dormir em pouco tempo. Decidiu batizá-lo de morfina, em homenagem ao deus grego do sono, Morfeu. A descoberta do farmacêutico alemão se mostrou uma das maiores revoluções da medicina. Até hoje, a droga é essencial para amenizar o sofrimento de pacientes que enfrentam, por exemplo, estágios muito avançados de enfermidades. Mais de 200 anos depois, a substância está prestes a ser o centro de outra revolução. Em um estudo publicado na revista Science, cientistas britânicos revelam ter desvendado o processo bioquímico de formação do medicamento, o passo que faltava para que o homem não dependa mais da folha da papoula para obtê-lo.

Há anos, pesquisadores buscam produzir morfina e outras drogas derivadas da planta, como a codeína, com a ajuda de leveduras (fungos) em laboratório. Alcançar o objetivo significaria um grande avanço porque a fabricação do anestésico se tornaria mais controlada e muito mais barata. O novo trabalho deixa a ciência a um passo de realizar esse feito.

O grupo responsável pelo estudo começou as investigações a partir de folhas de papoula que não são capazes de produzir a morfina. A análise desses vegetais ajudou a equipe a chegar a uma peça essencial para a produção da substância. “Vimos que essas plantas têm um defeito em um gene chamado STORR”, conta ao Estado de Minas Ian Graham, um dos autores do estudo e pesquisador do Departamento de Biologia da Universidade de York, na Inglaterra. A partir desse achado, a investigação se concentrou no papel desse gene.

Enzima O grande obstáculo que faltava ser superado para a produção da morfina com leveduras era compreender como a papoula reconfigura um composto chamado (S)-reticulina, transformando-o na variante (R)-reticulina. Os pesquisadores conseguiram ver que esse processo é possibilitado por uma enzima expressa pelo STORR, responsável por desencadear todo o processo de reconfiguração.

“A descoberta do STORR completa o conjunto dos genes necessários para a engenharia genética de produção de morfina em micróbios, tais como leveduras, que pode competir comercialmente com a produção baseada em vegetais”, afirma o autor. Para isso, bastará agora criar cepas de leveduras capazes de recriar o processo bioquímico desvendado.

Graham também acredita que a nova descoberta possa render a produção de outras drogas médicas, como a codeína, da mesma classe da morfina, e a noscapina, composto usado no tratamento de câncer. “Essa descoberta pode permitir também a criação de variedades de papoula sob medida, incluindo aquelas que produzem a noscapina”, destaca.

Segundo Lúcia Pinheiro Santos Pimenta, professora do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho mostra um processo antes desconhecido que pode, realmente, fazer diferença na produção do medicamento. “É um estudo muito interessante, no qual foi utilizada a engenharia genética para determinar a enzima responsável pela produção da morfina”, avalia a especialista, que não participou do estudo.

Pimenta também acredita que os resultados trarão novas estratégias de fabricação. “Com certeza, essa pesquisa vai abrir as portas para a obtenção da morfina utilizando micro-organismos por meio de fermentação biológica. Isso trará grandes implicações no processo produtivo do medicamento. No entanto, não podemos dizer ainda se serão leveduras ou outro tipo de organismo”, ressalta a brasileira.

Deixar de depender da papoula deve tornar a produção mais barata porque o cultivo da planta exige um grande investimento.


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