Realizado, o jovem pesquisador mineiro bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) espera agora continuar a pesquisa realizada entre julho de 2013 e julho de 2014 por mais um ano, até que se chegue a um produto vendável. A intenção é diminuir o comércio de alimentos estragados. “Esse biossensor é um dispositivo de baixo custo, cujas matérias-primas são de fácil acesso comercial. Ainda não foram realizados estudos econômicos em relação à produção do biossensor, mas temos a perspectiva de que se tratará de um dispositivo acessível economicamente”, diz Davi, que, além de visar soluções rápidas e de fácil acesso à indústria pesqueira, também pensou nos consumidores que necessitam de um controle mais rígido do produto. A cerimônia de entrega da premiação (no valor de R$ 15 mil) será realizada neste mês pela presidente da República, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, em Brasília. Ao descrever a pesquisa, Davi sustentou que as aminas biogênicas (organismos tóxicos de baixo peso molecular) presentes na carne de pescado trazem graves contaminações em contato com o organismo humano. Antes de ingressar na Unifei, o estudante cursou o ensino médio na Fundação Bradesco.
Corrente elétricaO biossensor funciona por meio de uma enzima instalada na ponta do aparelho. Ela é capaz de identificar e atacar as aminas biogênicas. A enzima oxida, reduzindo as aminas e produzindo uma corrente elétrica capaz de medir a concentração das toxinas na carne. De acordo com a intensidade da corrente, pode-se determinar se o peixe é de boa ou má qualidade. “A detecção é imediata. Em questão de segundos depois do contato do biossensor na carne já é possível fazer uma leitura de corrente elétrica que indicará a qualidade do alimento”, explica Davi.
Segundo ele, somente a concentração da toxina já é suficiente para aferir o nível de deterioração, não sendo necessário especificar o tipo de contaminação. “As toxinas surgem no processo de deterioração do alimento. Sendo assim, se sua presença for detectada, já se pode concluir que a carne está estragada. Ou seja, está imprópria para o consumo independentemente da presença ou não de outras contaminações”, acrescenta.
Ideia a partir de problemas
A ideia de desenvolver o biossensor surgiu da visão do estudante sobre dois problemas com o pescado brasileiro: as más condições de captura, transporte e armazenamento, que contribuem para perda de parte da produção nacional, devido à rápida degradação da carne perecível; e a ausência do alimento nas escolas.
“A rápida degradação é a causa de muitos casos de intoxicação alimentar. Na merenda, o peixe é de grande importância, considerando seu alto teor proteico, que auxiliaria na melhora do aprendizado dos alunos. Partindo desses dois problemas, observou-se que a falta desse alimento nas escolas está atrelada à primeira questão, que são as más condições de manuseio do pescado, e, por isso, a dificuldade de controle. Sendo assim, buscamos uma solução que fosse rápida e prática, que permitisse que qualquer um pudesse monitorar e controlar a qualidade do alimento”, explica.
Davi Benedito de Oliveira acrescenta que a possibilidade de detectar toxinas presentes em outros tipos de carne (bovinas, suínas e de aves) também permite uma aplicação mais ampla do biossensor. “A solução veio devido ao problema com o pescado, mas isso não impede sua aplicação em outras carnes.” Mais de 1,9 mil projetos foram inscritos nesta edição (a 28ª) do prêmio Jovem Cientista, cujo tema foi “Segurança alimentar e nutricional”.
Outros vencedores
CATEGORIA ESTUDANTE DO ENSINO SUPERIOR
1º lugar
Deloan Edberto Mattos Perini
Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS) – Erechim, RS
Orientador: Marcela Alvares Maciel
Título da pesquisa: Modelo de agricultura urbana como inovação no processo de abastecimento de alimentos em cidades de pequeno porte
3º lugar
Kamila Ramponi Rodrigues de Godoi
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Campinas, SP
Orientador: Ana Paula Badan Ribeiro
Título da pesquisa: Avaliação da incorporação de fitoesteróis livres e esterificados como agentes estruturantes em bases lipídicas para aplicação em alimentos
O que é o Jovem Cientista?
Criado em 1981, o prêmio Jovem Cientista é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – primeira instituição federal de fomento a ciência, tecnologia e inovação no Brasil – que visa revelar talentos, impulsionar a pesquisa e investir em estudantes e jovens que procurem inovar na solução dos desafios da sociedade. Nesta edição, foram contemplados, além de Minas Gerais, estudantes do Ceará, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Entre os trabalhos premiados, estão um produto que permite ao consumidor identificar fraudes no leite, um modelo de agricultura urbana que oferece um sistema sustentável de produção e aproxima os consumidores dos produtores e um estudo sobre a castanha-do-brasil como fonte de suplementação de selênio para idosos, que se revela importante aliado na prevenção do mal de Alzheimer. Pela primeira vez, o prêmio disponibilizou web-aulas sobre segurança alimentar e nutricional para ajudar os estudantes do ensino médio. O material gratuito (www.jovemcientista.cnqp.br) ficará disponível até o fim do ano. O anúncio dos agraciados foi feito em 21 de maio na sede do CNPq, em Brasília.