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Estado de Minas

Indústria de aplicativos decola no Brasil

De um lado, o mercado brasileiro, que figura entre os principais do mundo; de outro, desenvolvedores que assumem protagonismo numa bolada de US$ 25 bilhões


postado em 18/05/2015 09:20 / atualizado em 18/05/2015 10:32

Bryan Fernandes e os colegas da UnB: reconhecimento como recompensa (foto: Fábio Setti/Esp. CB/D.A Press)
Bryan Fernandes e os colegas da UnB: reconhecimento como recompensa (foto: Fábio Setti/Esp. CB/D.A Press)

Brasília – Menos de 40 anos de idade e um punhado de milhões de reais na conta. A matemática não é sempre tão exata, mas os números arredondam bem o perfil dos brasileiros que tiveram sucesso na indústria de aplicativos nesta década. Muitos começaram a desenvolver softwares nas universidades e hoje são donos de empresas com estrutura enxuta e faturamento alto. O mercado nacional ajuda investidores e desenvolvedores: atualmente, ele movimenta US$ 25 bilhões anuais, com expectativa de alcançar US$ 70 bilhões em 2017, de acordo com projeção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Tudo isso impulsionado pela disseminação crescente de hardware: levantamento do IBGE mostra que mais da metade dos brasileiros com acesso à internet usa smartphones e tablets para navegar. Os dados estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2013.

Os números registrados pelas duas principais lojas virtuais da indústria dos aplicativos, também conhecidos como “apps”, sustentam o poder e a aparentemente ilimitada capacidade de propagação (leia quadro abaixo). Sobre as prateleiras digitais dessas duas plataformas acumulam-se quase 3 milhões de softwares. Com isso, só no ano passado, desenvolvedores de aplicativos em todo o mundo acumularam aproximadamente US$ 17 bilhões em receita, o que corresponde a aumento de 50% no faturamento médio das empresas envolvidas com apps.

Apenas no Google Play, que abastece com programas o sistema operacional Android, todos os aplicativos renderam US$ 7 bilhões às empresas entre fevereiro de 2014 e de 2015, segundo informou ao Estado de Minas Regina Chamma, diretora de apps & games para a América Latina. “Qualquer desenvolvedor pode criar uma aplicação e expandi-la ao mercado global de maneira incrivelmente rápida e rentável. Presenciamos inúmeras empresas que se tornaram gigantescas apenas com a publicação de um app, como o Instagram e o WhatsApp, por exemplo”, anima-se André Vilas Boas, diretor de uma empresa especializada em softwares.

Na hora de acertar a Mega-Sena de qualquer app store (loja de aplicativos), muitos projetos começam na esfera acadêmica. Fabrício Bloisi, um dos fundadores e CEO de uma empresa nacional que já criou aplicativos com 50 milhões de usuários, desenvolveu as primeiras telas na incubadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1998, quando tecnologia móvel ainda era tão inconsistente quanto o embrionário mercado de telefonia celular. “Começamos a trabalhar com SMS em 2000, quando esse era o primeiro formato para se comunicar. A partir daí, investimos pesadamente em inovação”, lembra. Hoje, a empresa de Bloisi está avaliada em R$ 800 milhões e conta com mais de 700 funcionários e 11 escritórios no Brasil, Argentina, Peru, Colômbia, México e Estados Unidos.

Aos 23 anos, o universitário brasiliense Bryan de Holanda Fernandes, idealizador do app RecTag, disponível na App Store, comentou o retorno após dedicar três meses, ou 20 horas corridas, para a produção da primeira versão do aplicativo – que permite fazer gravações de áudio e adicionar marcação nelas. “Há o reconhecimento, que, talvez, seja o principal. Quando as pessoas dizem o quanto o app tem ajudado.” O utilitário foi desenvolvido com mais dois colegas da Universidade de Brasília (UnB).

Potencial

Na hora de gastar, o Brasil também assumiu a ponta de um mercado que só cresce. Segundo levantamento da App Annie, empresa que presta consultoria na área, o Brasil ocupa a segunda colocação entre os países que mais registraram downloads no Google Play em 2014, atrás apenas dos Estados Unidos.

Desde o início de 2015, os mais baixados são, respectivamente, WhatsApp, Facebook messenger, Facebook, Instagram e Palco MP3 – este último desenvolvido no Brasil, registrando 40 milhões de downloads nas principais lojas virtuais. “Temos mais de um milhão de músicas cadastradas e os usuários viram no nosso aplicativo uma forma de ouvir músicas gratuitamente e de forma legal, já que são os próprios artistas quem oferece o conteúdo”, explicou Samuel Vignoli, CEO da empresa que idealizou o app.


• No Porto Digital, o teste está no pacote

Ao desenvolver aplicativos com múltiplas funcionalidades, é necessário fazer diversos testes antes de disponibilizar o produto final ao usuário. No Brasil, há três laboratórios específicos para esse fim – um deles no Porto Digital, em Recife. Recém-inaugurado, o local dispõe de equipamentos capazes de detectar com agilidade bugs e falhas de execução, além de analisar funcionalidade, usabilidade, performance, segurança de dados e estabilidade.

Os testes são gratuitos e destinados às empresas embarcadas no Porto Digital. “O laboratório é mais uma ferramenta oferecida. Os empreendedores têm à disposição metodologias e ferramentas de testes que auxiliam, de forma decisiva, no lançamento das aplicações”, resume Guilherme Calheiros, diretor de inovação e competitividade do Porto.

Entre os maiores do Brasil, o Parque Tecnológico do Rio, instalado num câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estimula a interação entre alunos, docentes e empresas da área. São 350 mil metros quadrados com 11 grandes empresas e seis laboratórios instalados.

• Quem quer ser um milionário?

O custo médio para que um aplicativo simples passe a ter forma, de acordo com levantamento feito pelo EM com as principais empresas do setor no país, gira na casa de R$ 20 mil. O valor envolve o trabalho de, ao menos, um programador e um designer de interface. O tamanho do cheque, no entanto, está longe da linearidade – por total escassez de mão de obra qualificada, profissionais mais requisitados podem ditar os preços, que, a depender do grau de complexidade do projeto, podem passar tranquilamente dos R$ 100 mil.

Quem não dispõe dessa quantia – a maioria absoluta –, mas acredita ter potencial para ingressar e fixar-se no mercado, pode encontrar apoio em companhias alternativas. Fundada em 2011, uma empresa especializada em oferecer ferramentas “pré-moldadas” para o desenvolvimento de apps cobra entre R$ 9 e R$ 49 mensais, dependendo do plano. “À medida que o cliente avança no conhecimento sobre o mercado, ele pode fazer uso profissional da ferramenta”, acredita o fundador, Guilherme Santa Rosa.

Um levantamento organizado pela empresa apontou que a maior parte dos usuários que buscam oportunidade no nicho tem renda mensal de R$ 3,5 mil, sendo que somente 7% informaram renda superior a R$ 10 mil.

Àqueles que não se interessam por soluções prontas e pretendem investir em formação na área de tecnologia, para, eventualmente, criar o próprio software, um ponto de visita obrigatório no país é o Porto Digital, em Recife (PE). O parque tecnológico, que abriga 250 empresas, também é sede do Centro de Estudos e Sistemas Avançados (Cesar), instituição de ensino superior do setor de tecnologia da informação e comunicação e de economia criativa.

As 250 startups que compõem o Porto Digital faturaram mais de R$ 1 bilhão nos últimos três anos. Mas, em muitos casos, a criatividade em torno do aplicativo se mostra infinitamente mais importante do que o dinheiro gerado. É o caso do analista de sistemas Carlos Pereira, pai de uma garota com paralisia cerebral, que desenvolveu o app Livox. Com download gratuito, o app traz cerca de 2 mil figuras relacionadas a emoções, atividades e opções de respostas às perguntas do dia a dia, o que facilita a comunicação de quem tem paralisia cerebral, por exemplo. Neste ano, o app conquistou o primeiro lugar na categoria Melhor Aplicativo de Inclusão Social do Mundo no prêmio da Organizações das Nações Unidas (ONU).

• Em Minas, ergue-se  nosso Vale do Silício

Um dos destaques criados por professores e alunos do Parque Tecnológico do Rio no câmpus da UFRJ é o aplicativo Rio Bus. Lançado em 2014, o programinha mostra, em um mapa, a localização do ônibus que o usuário espera. O itinerário do coletivo é marcado em linhas verdes, amarelas e vermelhas: o verde significa que a localização daquele ônibus foi atualizada há menos de cinco minutos; a cor amarela indica que a atualização ocorreu entre cinco e 10 minutos; a vermelha, há mais de 10 minutos.

Além das instalações em Pernambuco e no Rio de Janeiro, o Brasil também tem sua versão reduzida do Silicon Valley – Vale do Silício, em português.

Apelidado carinhosamente de San Pedro Valley, o complexo abriga mais de 150 startups que, desde 2011, começaram a se instalar no Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte (MG), que se tornou referência nacional em startup. Com baixo valor de aluguel – ao menos à época –, jovens empresários se instalam no local e montam uma rede de contatos para troca de experiências.

 


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